Um novo trabalhador no Maranhão [1]
Apoiadores matriciais são nova estratégia da ETSUS na gestão dos cursos descentralizados
Maíra Mathias
Imagine um trabalhador de uma Escola Técnica do SUS cuja função é acompanhar de perto a realização dos cursos descentralizados, dando apoio ao facilitador docente. Pensou no supervisor de cursos? Agora, imagine que esse trabalhador também tem autonomia para negociar com os gestores municipais caso a contrapartida pactuada entre ETSUS e prefeituras não seja cumprida, como, por exemplo, se o transporte dos profissionais do serviço para o local onde as aulas teóricas são ministradas tenha sido interrompido. Essa seria uma função típica do apoiador matricial, trabalhador que existe na Escola Técnica de Saúde do SUS Drª Maria Nazareth Ramos de Neiva (ETSUS Maranhão) desde março deste ano e é considerado estratégico para a gestão dos cursos descentralizados.
“Hoje, cerca de 85% dos problemas que surgem no decorrer dos cursos nos municípios são resolvidos pelo apoio matricial. Antes, na época da supervisão, um problema logístico, como a questão do transporte, seria trazido para a Escola para ser resolvido em um nível mais central. O apoiador matricial tem em sua mão o poder de negociação com o gestor, marca um horário, senta com ele e, só em última instância, essa questão é trazida para a Escola”, explica a coordenadora pedagógica da ETSUS, Regimarina Soares, que também começou na Escola como apoiadora.
Mas o apoiador matricial não se ocupa apenas de ‘assuntos políticos’. “Damos esclarecimentos aos facilitadores em questões pedagógicas, como nos conteúdos das aulas, e em assuntos como carga horária ou organização dos espaços das aulas”, conta o apoiador matricial Yuri da Costa, que é responsável pelos municípios de Timon, Matões, Parnarama, São Francisco do Maranhão, localizados na regional de Timon, e pela São João do Sóter na regional de Caxias.
Cada apoiador visita os municípios que estão sob sua responsabilidade uma vez por mês. De acordo com Yuri, sua presença nas regionais varia de uma a duas semanas, porque depende, dentre outros fatores, do ritmo de cada turma: “A gente respeito o cronograma de cada facilitador”. São seis horas de viagem de São Luís do Maranhão até Timon.
Yuri explica que quando os apoiadores não estão nos municípios, eles ficam na sede da Escola acompanhando, organizando e arquivando materiais como a matriz de avaliação dos alunos ou as fichas dos facilitadores docentes.
O começo – A introdução do apoiador matricial na estrutura da ETSUS começou a ser pensada em dezembro de 2009, sendo efetivada em março deste ano, quando foi feito um processo seletivo, que exigia dos participantes experiência em saúde coletiva e, preferencialmente, em educação. Por meio de entrevistas e oficinas pedagógicas realizadas para analisar a interação com a metodologia da problematização, foram selecionados 20 apoiadores matriciais exclusivamente para a qualificação em Agente Comunitário de Saúde.
A coordenadora do curso, Luana Castro, conta que a ETSUS tinha o prazo de três anos para fazer a etapa formativa I em, pelo menos, 40% de 92 municípios. “Demoramos um ano com o instrumento da supervisão. Com a implementação dos apoiadores, turmas que começaram em março vão se formar em dezembro”, avalia ela, completando: “Com o apoio matricial ganhamos em celeridade e também em qualidade”. Isso porque, ainda segundo Luana, a Escola passou a discutir mais os instrumentos políticos e administrativos envolvidos no processo do curso durante as capacitações pedagógicas dos facilitadores, que a Escola realiza três vezes no início, meio e fim de cada módulo do ACS.
“O apoiador teve um papel estratégico de fato, devido à dimensão de decisão que ele tem, capaz de dar agilidade ao caminhar do curso. É um trabalhador que funciona como braço da Escola no município e eu penso que pode ser aproveitado por outras ETSUS”, sugere a coordenadora pedagógica da Escola.