“A diferença entre o modelo da psiquiatria anterior e o proposto pela Reforma Psiquiátrica brasileira é a continuidade do cuidado. Para isso, é crucial a figura do cuidador e dos agentes comunitários de saúde que realizam o trabalho na Atenção Primária”. A declaração, de Pedro Gabriel Godinho Delgado, psiquiatra e ex-coordenador nacional de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas, do Ministério da Saúde, marcou a formatura da 4ª turma do Curso de Especialização Técnica de Nível Médio em Saúde Mental, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), na Fiocruz. A solenidade da formatura dos 35 alunos foi realizada na manhã desta sexta-feira, dia 13 de julho.
Além de Pedro Gabriel, participaram do evento a coordenadora do curso de especialização Nina Isabel Soalheiro, a vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da EPSJV, Marcela Pronko, além do coordenador do Laboratório de Atenção à Saúde, Marco Aurélio Soares Jorge.
Durante a conferência, sob o tema `Reforma Psiquiátrica Brasileira História, Perspectivas e Desafios`, Pedro Gabriel reforçou a importância do profissional de nível médio no âmbito da Saúde Mental. Ele ressaltou que a continuidade do cuidado aos pacientes é garantida não por “grandes instituições especializadas”, mas pelos profissionais “da ponta”.
“O curso de nível médio é uma das prioridades no processo de reforma psiquiátrica no Brasil, que consiste em dar mais autonomia ao paciente com transtornos mentais severos. Consiste em fazer com que ele consiga viver de uma forma mais autônoma, mas com a necessidade de um cuidado próximo”, explicou.
Pedro Gabriel lembrou os 13 anos em que trabalhou na Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, com cerca de 2.500 pacientes – a maioria com mais de 40 anos – e tempo médio de internação de 12 anos. Segundo o psiquiatra, nessa época, era inviável cuidar da vida cotidiana de todos os pacientes. “Era esse o modelo. O profissional ficava distante do paciente e da família”, recorda.
Segundo o especialista, quando países como o Brasil iniciam processos de melhoria dos indicadores de qualidade de vida, aspectos ligados à saúde mental surgem como desafios decisivos para o Estado. “São as pessoas que têm mais vulnerabiliades e mais dificuldade de se inserir no mundo do trabalho e da economia formal que deverão ser objeto do cuidado das políticas públicas”, explica. “No Brasil, o avanço da Reforma Psiquiátrica só será garantido para todos nós, quando pudermos afirmar que o paciente com transtorno mental severo de uma família pobre consegue atendimento em curto espaço de tempo”, observou, acrescentando que o tempo médio de espera por uma consulta com um especialista em saúde mental hoje em dia é ainda de seis meses.
Na avaliação de Marco Aurélio, os formandos têm a responsabilidade de transformar a realidade da Saúde Mental, tornando-a mais humana e inclusiva. Ele lembrou que o curso ofertado pela EPSJV foi criado em 1995 e vem acompanhando o Movimento da Reforma Psiquiátrica. “Os alunos devem continuar a luta na ponta do serviço, com a consciência de que é um trabalho muito importante. Ninguém mais pode dizer que é a favor de manicômios”, afirmou.
A formatura contou ainda com a apresentação musical do grupo Somos Um.