ETIS promove avaliação do Profae no Rio de Janeiro [1]
“Aprendendo com o ontem para transformar o amanhã”. Esse foi o tema do seminário realizado pela Escola de Formação Técnica em Saúde Enfermeira Izabel dos Santos (ETIS), do Rio de Janeiro, para avaliar o Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem (Profae) no estado. Nos dias 8 e 9 de dezembro, seis mesas temáticas, compostas por representantes de governo, diretores de escolas técnicas, docentes e profissionais da área apresentaram resultados e discutiram perspectivas delineadas a partir do Profae, que formou aproximadamente 13 mil trabalhadores e capacitou 482 instrutores no Rio, entre 2001 e 2005. A diretora da ETIS, Sonia Maria Alves, explicou que o evento foi organizado com o objetivo de dar uma resposta à sociedade. Porém, mais do que em números, as exposições e debates se concentraram nos impactos qualitativos do Projeto nos serviços de saúde. “O Profae abriu a possibilidade de uma formação profissional com direito à cidadania, já que muitos desses trabalhadores atuavam de forma inadequada, despreparados, sem a formação necessáafirmou Sonia durante sua fala inicial”.
O evento foi organizado de modo a dar voz a todo tipo de instituição envolvida no Projeto, não só às ETSUS. Na segunda mesa de discussão, ‘Contribuição das Escolas na Qualificação da Atenção à Saúde no SUS’, por exemplo, escolas públicas e privadas – como o Centro de Educação em Saúde do Senac, a Escola Técnica Estadual Herbert de Souza e o Centro de Formação Profissional Bezerra de Araújo – mostraram a importância da articulação no âmbito educacional, exemplificando com números e histórias de cada instituição.
De acordo com Sonia Alves, para que a ETIS se tornasse uma instituição reconhecida como estratégica para a Educação Profissional do SUS, foram fundamentais as atuações da sua equipe pedagógica, da enfermeira Izabel dos Santos, que dá nome à Escola e é hoje uma das consultoras do Profae, e da integração entre as secretarias de Educação, de Saúde e os Núcleos deApoio à Docência (NAD), instalados em Instituições de Ensino Superior. Hilton Miguel, coordenador de Educação de Jovens e Adultos da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro, falou sobre a oportunidade de oferecer a complementação do ensino fundamental a 854 trabalhadores. Segundo ele, mais de 30% dos alunos que concluíram a EJA dão continuidade ao ensino médio. “O que colaborou para isso foi a oferta de toda uma infra-estrutura, com material didático específico e um sistema de avaliação condizente. Além do conhecimento das práticas de trabalho, o projeto foi importante para aumentar a sensibilidade do profissional”, acredita.
A valorização das experiências pessoais e profissionais do trabalhador e a importância de um atendimento mais humanizado foram a tônica da discussão ‘Impacto da Formação Profissional no SUS – Resultados e Experiências’, focada nos locais onde aconteceu a descentralização das turmas. No segundo dia do seminário, representantes de unidadesde saúde de quatro municípios fluminenses – Natividade, Cachoeiras de Macacu, Piraí e Itaboraí – e do Hospital dos Servidores do Estado (HSE/RJ) contaram um pouco sobre as atividades em cada região. Maria da Conceição Rocha, da Secretaria Municipal de Piraí, entende que, devido à articulação entre ensino e trabalho, a formação de quem já atua na área é diferente de quem está começando. “Por estarem acostumados com a dinâmica, os profissionais puderam nos ajudar a ver quais eram as carências mais urgentes”, disse. Já para Francisco Bohrer, de Natividade, a experiência do Profae identifica o aluno como um agente multiplicador do saber. E disse mais: “Quem conhece a fundo o dia-a-dia dos setores pode dar sugestões que visem à coerência com as condições de trabalho, como qual a melhor operacionalização dos instrumentos, o que é sentido pelos gestores, professores e alunos”.
A Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Federal Fluminense (UFF) e a Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), que sediaram os NADs que ajudaram a ETIS na construção do material didático e na formação dos instrutores do Profae, apresentaram seus trabalhos na mesa ‘Inovações de Estratégia de Formação de Professores para Educação Profissional em Saúde’. Contribuindo com sua experiência na área, o professor Gaudêncio Frigotto, doutor em Educação, foi o convidado da conferência ‘Educação, Trabalho e Formação’. Na palestra, Frigotto enfatizou que uma melhor qualificação depende da educação básica e que a formação técnica tem de estar articulada com um conhecimento amplo. “Educação profissional não é adestramento, ela tem que abordar o científico, o cultural, o histórico, o político e o social”, disse, acrescentando que a formação deve estar associada a uma visão crítica. O debate final do seminário de avaliação, ‘Perspectivas da Educação Profissional para o Setor Saúde’, tratou de diretrizes mais gerais da saúde, a partir tanto de projetos ligados à Enfermagem, como o Profae, quanto de outras áreas.
Marise Ramos, vice-diretora de ensino da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), falou da importância da noção de Integralidade também na formação dos trabalhadores da saúde, tanto no que diz respeito à articulação de saberes quanto à sua função social, na qual todos os profissionais são importantes. “O trabalho, que se constitui como meio para produzir a vida, é organizado de tal forma que se acredita que as pessoas de menor escolaridadedesempenham as atividades mais simples, o que é uma conseqüência da divisão capitalista. É preciso buscar o sentido no nosso trabalho, compreender a vida além da própria comunidade e ir contra qualquer lógica de exploração”, afirmou Marise.
A Coordenadora de Ações Técnicas do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (Deges/SGTES/MS), Ena Galvão, fez um balanço das ações do Ministério da Saúde, inclusive junto à Rede de Escolas Técnicas do SUS. Em nível nacional, o MS deu apoio técnico e financeiro na formação de mais 200 mil atendentes de enfermagem, a complementação de 90 mil auxiliares para técnicos e 40 mil trabalhadores participaram da complementação do ensino fundamental. Ena ainda elogiou a atuação da Escola Izabel Santos no contexto da formação em saúde: “A ETIS teve papel importantíssimo na implantação de outras Escolas e é uma das mais visitadas da Rede, onde as outras ETSUS buscam apoio, pois é pioneira no currículo integrado e na visão e implantação da área meio dos serviços do sistema de saúde”.