No povoado de São Joaquim, no Piauí, a hipertensão preocupou por um longo tempo os agentes comunitários de saúde (ACS). As crises da doença eram freqüentes e o acompanhamento dos casos não era feito de maneira adequada. Para mudar a situação, seis ACS decidiram trabalhar esse tema no seu projeto de fim de curso, quando concluíram o primeiro módulo do curso Técnico em Agente Comunitário de Saúde oferecido pelo Centro Estadual de Educação Profissional em Saúde Monsenhor José Luiz Cortez (CEEPS/PI).
A proposta era elaborar um plano de ação para controlar a doença e executá-lo durante cinco meses – de janeiro a maio de 2007. Hoje, quase um ano depois de terminado o cronograma oficial, o plano continua sendo posto em prática pela equipe. “Virou rotina. Vimos que dava certo, que os casos de problemas relacionados à hipertensão na comunidade diminuíram muito e percebemos o quanto era importante continuar”, conta o ACS Paulo César de Araújo, um dos envolvidos no projeto. Além dele, participaram do plano de ação os ACS Elisabeth do Nascimento, Francisca Sousa, Maria Francisca Rodrigues, Maria Lúcia Rocha e Ronaibio da Silva Cunha. O enfermeiro da equipe, Domingos de Brito, é também professor do curso e foi o orientador dos agentes durante a elaboração e execução do plano.
Um dos objetivos dos ACS era fazer o acompanhamento correto dos hipertensos. Antes de começarem o primeiro módulo do curso, os agentes não tinham as informações dos pacientes sistematizadas. “Era muito difícil ter o controle. Nós fazíamos as visitas, mas não tínhamos o registro dos medicamentos, dos exames, das medidas”, explica a ACS Elisabeth. Agora, todas as informações a respeito dos hipertensos são anotadas. De acordo com Paulo César, esse foi um grande avanço. “Em todas as visitas, tiramos a pressão arterial, verificamos se o medicamento foi tomado, se a pessoa está fazendo dieta e exercícios, e anotamos tudo em uma ficha. Isso facilita muito o acompanhamento, porque temos o histórico de todos os hipertensos a que atendemos”, afirma.
O plano de ação previa ainda o registro de pacientes no HiperDia, um sistema do Ministério da Saúde destinado ao cadastro de hipertensos e diabéticos que contém todos os dados médicos dos pacientes. Através desse cadastro, atualizado todos os meses, o Ministério controla a distribuição de medicamentos e mapeia essas doenças. Hoje, boa parte dos hipertensos de São Joaquim tem seus dados no Hiperdia.
Os agentes também se preocupam em mostrar à comunidade a importância de se prevenir essa doença, que não tem cura. Por isso, são programadas palestras periódicas, voltadas a toda a população, no posto de saúde. “Quando o público é grande, usamos um colégio próximo para realizar os encontros”, explica Domingos.
Uma estratégia usada pelos ACS para tornar o plano mais eficaz é envolver toda a equipe de saúde nas palestras. “Todos falam, desde o agente comunitário até o médico”, diz Paulo César. De acordo com ele, isso faz com que os conselhos dados ganhem um peso muito maior. “É diferente de quando sou só eu, na casa de um hipertenso, falando direto com ele. A impressão que dá é que, quando as pessoas vêem uma equipe inteira se mobilizando para resolver um problema, elas percebem com maior clareza a importância daquele assunto. E a gente nota que está dando certo, que as pessoas fazem questão de ir sempre às palestras”, afirma.
Nessas ocasiões, a equipe procura dar destaque à importância de não fumar e não beber, além de praticar atividades físicas e manter hábitos de alimentação saudáveis. “Falamos sempre para as pessoas evitarem o sal e a gordura e para abusarem de frutas e verduras. Nos dias de palestra, sempre levamos sucos, fazemos um lanche com muitas frutas da estação”, conta Domingos.
Ao fim das palestras, as dúvidas dos ouvintes são esclarecidas. “Nos primeiros encontros, as pessoas estavam um pouco tímidas, perguntavam pouco. Hoje, é bem diferente. Elas falam sobre suas experiências pessoais, sobre os remédios que tomam, fazem perguntas, trocam idéias. E a gente dá as orientações. Por exemplo: às vezes, um paciente compara sua medicação com a de outro hipertenso, comenta que deseja trocar o seu remédio. Aí a gente intervém e explica que cada caso é um caso, que o remédio de uma pessoa nem sempre funciona para outra”, explica Paulo César.
Os agentes estão felizes com os resultados observados até agora. “A mudança é impressionante. Antes, os hipertensos eram mal-informados, em geral achavam que o aumento da pressão acontecia por acaso e, quase sempre, relutavam em tomar o remédio. Por isso, os casos de internação e de acidente vascular cerebral (AVC) eram muito freqüentes. Agora, o número desses casos despencou”, afirma Elisabeth. Paulo César ressalta que o sucesso do plano foi fruto daquilo que se aprendeu durante o curso, e lamenta que os ACS da região só tenham tido acesso ao primeiro módulo. “É uma pena que a segunda parte do curso ainda não tenha começado. Esperamos que isso aconteça logo, porque quando a gente estuda e ganha mais conhecimento, consegue fazer o nosso trabalho cada vez melhor”, conclui.
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