destaques

15/02/2005 Versão para impressãoEnviar por email

Aprendendo enfermagem além da sala de aula

Minas Gerais

Ver na prática o que foi aprendido em sala de aula e ainda contribuir com a sociedade. A tão famosa associação entre ensino, pesquisa e extensão se tornou realidade para turmas do Profae de três municípios mineiros,que realizaram o curso no ano passado. Desafiados pela coordenadora geral do Profae do Centro Formador de Recursos Humanos para a Saúde, da Escola Pública de Minas Gerais (ESP-MG), Marlene Oliveira,alunos do curso de auxiliar de enfermagem criaram um Projeto de Intervenção Comunitária, a partir da observação das necessidades locais.“Lançamos uma proposta aos nossos coordenadores locais, professores e alunos no sentido de melhorar a articulação entre o conteúdo do curso e a realidade da saúde de cada município”, explica Marlene.

O primeiro passo foi identificar a demanda de cada município, por meio de uma análise do perfil epidemiológico da região. Em Três Pontas, por exemplo, alunos e professores, a partir de suas experiências pessoais, constataram que o alcoolismo é um dos grandes vilões da cidade e precisa ser tratado como um problema de saúde pública. Os alunos foram a campo para identificar o perfil do alcoólatra da cidade, conhecer a rede de assistência do município e,por fim, sugerir uma solução.

Durante a pesquisa, eles descobriram que a maioria dos alcoólatras de Três Pontas é do sexo masculino, encontra-se na faixa etária de31 a 40 anos, está desempregada e cursou apenas até a 4ª série do Ensino Fundamental. A rede de assistência,por sua vez, não consegue dar contado problema. “O atendimento municipal é tão abrangente que não consegue atender um problema específico como o alcoolismo. O resultado é que os necessitados ficam pelas ruas da cidade”, diz Eliza da Silva,coordenadora local do curso. Os alunos do Cefor concluíram que o caminho para solucionar o problema é concentrar o atendimento ao alcoólatra num único lugar, que deve contar com profissionais capacitados para assistir e reintegrar o doente à sociedade. Além disso, o município deveria investir na prevenção da doença, utilizando a escola como ponto de partida. O projeto foi encaminhado para a prefeitura na expectativa de que alguma providência seja tomada.

Hora de conscientizar

Outra turma que aceitou o desafio foi a do município de Três Marias. Lá, os estudantes – todos agentes comunitários de saúde –, ao pesquisarem nas Diretorias de Ações Descentralizadas da Saúde, constataram que o índice de vacinação dos bairros de Novo Horizonte e São Geraldo, onde eles atuam como ACS,é baixo. Com os conhecimentos adquiridos no curso de auxiliar de enfermagem, os alunos visitaram mais de mil famílias e descobriram que o problema está na vacinação dos adultos, já que 90% das crianças têm o cartão de vacinação. “A faixa etária que vai de 21 a 59 anos não sabia que deveria tomar a vacina contra hepatite, febre amarela e tétano. A maioria nem tinha o cartão, conta Marluce Santana, coordenadora local do curso.

Com o lema Cartão de vacina:um documento para todos. Tenha o seu, a Escola conseguiu apoio da prefeitura, das Secretarias Municipais de Saúde e de Educação e Cultura, do Centro de Saúde de Epidemiologia, das associações de moradores, das igrejas e da mídia local.Os alunos participaram ativamente da campanha de vacinação de maio e junho do ano passado, conseguindo que o número de adultos vacinados aumentasse. Dos 1128 adultos conscientizados pelos estudantes,44% compareceram ao posto de saúde para receber as doses de hepatite B, dupla-adulto e anti-amarílica.

Nutrir para prevenir

O terceiro município que se destacou nesse triângulo escola-aluno-sociedade foi Poté, que tem 15mil habitantes. Como a maioria da população mora na zona rural, os alunos desenvolveram um trabalho sobre alimentação alternativa. Os auxiliares de enfermagem utilizaram uma amostragem pequena – 20 mães de alunos da Creche Municipal de Sucanga – para ensinar receitas de reaproveitamento dos alimentos plantados na região.Para isso, a equipe da Escola organizou um almoço coletivo, no qual os alunos do curso prepararam, junto com as mães, uma farofa‘alternativa’. “Utilizamos alimentos nutritivos como casca de batata, folhas de mandioca e casca de ovo”,conta Elen Beloti, coordenadora local do Profae.  Além disso, os estudantes apresentaram uma peça de teatro para ajudar os pais a entenderem a importância de cada nutriente.

Comentar