Alucinados, meninos ficando azuis e desencarnando lá no Brejo da Cruz deu título à aula ampliada da Especialização em Atenção a Usuários de Drogas no SUS, ofertada pela Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (ESP-MG), por meio do Núcleo de Redes de Atenção à Saúde. A atividade, realizada no dia 9/2, foi conduzida pelo professor Luciano Fonseca Elia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), levando alunos, trabalhadores da saúde mental e convidados à reflexão sobre os retrocessos nas políticas públicas, o olhar punitivo da sociedade em relação aos jovens usuários de drogas e os cuidados na atenção psicossocial.

Iniciando a aula com o clipe da música Brejo da Cruz, de Chico Buarque, Elia fez duras críticas às comunidades terapêuticas como pontos focais de atenção da rede assistencial de saúde mental. Para ele, tais dispositivos segregam e separam os internos dos vínculos sociais, indo na direção contrária da Reforma Psiquiátrica brasileira. Ele criticou a repressão e o recolhimento compulsoriamente dos jovens em internações “supostamente terapêuticas”, bem como as desintoxicações coercitivas de pretensas dependências químicas, que, segundo ele, jamais seriam comprovadas por critérios sérios e rigorosos, do ponto de vista científico.

Impressões

Psicóloga no Centro de Referência em Saúde Mental Infanto-juvenil, em Belo Horizonte, a aluna Sônia Angélica dos Santos observou que aula chamou a atenção para as questões sociais no qual o problema do uso de drogas está imerso. “São crianças e adolescentes de baixa renda com um percurso de marginalização. O problema não é a droga. Esses meninos não são dependentes de uma química, eles são dependentes de muitos problemas na vida”, refletiu.

Para a discente Eliana Maria Delfino, psicóloga do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) 1, em Lagoa da Prata, a aula oportunizou rever o cotidiano do trabalho. “Eu atuo com pessoas que abusam de álcool e outras drogas no dia a dia. A apresentação do professor Luciano foi muito provocativa, ajudando na reflexão sobre nossa atuação no campo da Atenção Psicossocial. Esse conceito é muito amplo e nos faz repensar o trabalho dentro dos Caps”, observou.