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01/12/2004 Versão para impressãoEnviar por email

ETSUS Acre leva curso de auxiliar de enfermagem a índios

Enfermeira trabalha em comunidade só acessível por barco

O acesso à região é difícil. Para se chegar a Santa Rosa do Purus, que fica a 850 Km de Rio Branco, é preciso navegar durante oito dias, rio a cima, nos meses da estiagem de chuvas (de março a setembro). Lá está a enfermeira Francisca da Silva, única profissional de nível superior que trabalha no posto de saúde do município. A pedido dela, a ETSUS Acre, utilizando recursos do Profae e a ajuda da Funasa, está oferecendo o curso de auxiliar de enfermagem para 39 pessoas. Dentre os alunos, estão 13 índios da etnia kaxinauá.

Os índios que participam do projeto foram escolhidos por sua aldeia e já fizeram o curso de agentes indígenas de saúde (AIS), oferecido pela Funasa (Fundação Nacional de Saúde). Mas, segundo Francisca, é importante que eles complementem seus conhecimentos do curso de auxiliar de enfermagem. “Como as aldeias ficam muito longe de postos de saúde, é preciso que os primeiros socorros possam acontecer no próprio local. Os auxiliares de enfermagem têm essa competência”, diz a enfermeira.

Os alunos passam duas semanas no curso e o restante do mês em suas aldeias. O gasto com hospedagem e transporte dos índios é custeado pela Funasa. Por enquanto, as aulas práticas são ministradas no pequeno posto de saúde de Santa Rosa do Purus. Mas, de acordo com Francisca, o estágio supervisionado terá duas etapas: uma nas próprias aldeias indígenas e outra no hospital do município de Sena Madureira, maior cidade da região, distante 700 Km do local das aulas.

No primeiro momento, Francisca, única professora do curso, abordará questões relativas à saúde indígena e aproveitará a ocasião para realizar um perfil epidemiológico de cada aldeia. “Na comunidade indígena, quero ter uma resposta prática do que o aluno aprendeu na teoria. O objetivo é trazer para a realidade deles o que foi ensinado em sala de aula. Além disso, vou fazer o levantamento das principais doenças indígenas e criar uma estratégia de aprofundamento do conhecimento do auxiliar de enfermagem na área”, diz Francisca. Em Sena Madureira, os alunos terão a supervisão de enfermeiros da Funasa. “Em um grande hospital, eles conhecerão procedimentos cirúrgicos e saberão como é o dia-a-dia de um auxiliar de enfermagem de uma cidade grande”, explica a enfermeira.

O curso de auxiliar de enfermagem começou em junho deste ano e está previsto para terminar no meio do ano que vem. Apesar da dedicação de Francisca, existem alguns obstáculos que precisam ser vencidos para o bom andamento do curso. Um deles é a deficiência no entendimento da língua portuguesa, caso da maioria dos alunos. Para solucionar o problema, três alunos do curso se disponibilizaram a dar um reforço escolar para seus colegas. As aulas de português acontecem depois da aula, durante uma hora. “A maioria dos alunos conclui o ensino fundamental em curso supletivo de baixa qualidade. Por isso, o entendimento do conteúdo do curso de auxiliar está comprometido. Minha esperança é que no reforço escolar eles possam melhorar o aproveitamento”, diz Francisca.

Lutando contra a adversidade, em prol de minorias excluídas, a enfermeira especializada em saúde pública, faz seu trabalho em Santa Rosa do Purus há três anos, quando fez a opção de sair da capital. “As oportunidades em Rio Branco são melhores, mas eu queria colocar em prática meus conhecimentos”, explica Francisca, que antes trabalhava na Casa do Índio. Essa história, da enfermeira e da Escola do Acre que levam o SUS às comunidades mais distantes, é um exemplo de como a educação e a saúde podem estar a serviço das necessidades locais.

 

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