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01/03/2008 Versão para impressãoEnviar por email

Integralidade no ensino é tema de artigo do Cefope

“É possível inserir a integralidade na formação técnica em saúde?”. Esse é o título do artigo de Lêda Hansen, diretora técnica do Centro de Formação de Pessoal para os Serviços de Saúde Dr. Manuel da Costa Souza (Cefope/RN). O texto faz parte do livro “Saúde Bucal Coletiva: implementando idéias...concebendo integralidade”, lançado no dia 25 de janeiro no Congresso de Odontologia de São Paulo. A publicação foi organizada por Mônica Macau, mestre em odontologia formada pelo Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IMS/UERJ). “Fiquei muito feliz por ter a oportunidade de discutir a formação técnica em saúde bucal e apresentar a experiência do Cefope, que tenta aplicar uma prática pedagógica integral em seus cursos”, comemora Lêda.

Para entender como a integralidade está presente no ensino, Lêda analisa o relato das experiências dos docentes e orientadores que passaram pela capacitação pedagógica antes de darem aula nos cursos Técnico em Higiene Dental (THD) e em Agente Comunitário de Saúde (ACS), realizados em 2005 e 2006 pelo Cefope. “Esses relatos fazem parte do relatório final da capacitação pedagógica. Antes, eles apenas tratavam de questões administrativas, mas há alguns anos decidimos incluir impressões pedagógicas dos docentes, que são recolhidas ao final do curso”, conta a autora, que também coordenou as capacitações pedagógicas.

Segundo ela, a ETSUS percebeu que, para ter um aluno que aplique a integralidade no trabalho do SUS, era preciso que ele fosse formado de maneira integral. “A integralidade se constitui como elemento principal, essencial e fundamental à formação dos trabalhadores de saúde, na medida em que deve ser apropriada e internalizada pelos sujeitos, passando a operar no interior da sua estrutura orgânica, favorecendo, portanto, a sua concretização nas práticas cotidianas. Porém, isso não acontece de forma espontânea. Portanto, só um processo educativo deliberado e pedagogicamente fundamentado poderá organizar as condições necessárias para que as transformações aconteçam. É importante reiterar, então, que são os professores os responsáveis pela condução do processo que vai tornar possível ou não tais transformações”, explica ela no artigo.

Integralidade começa na capacitação pedagógica

No artigo, Lêda conta que o Cefope aborda o tema da integralidade já na capacitação pedagógica dos docentes. Segundo ela, o objetivo da ETSUS ao realizar o curso para os docentes – com carga horária de 40 horas – é ensinar que é importante integrar o conhecimento de todos os atores envolvidos no processo educativo: alunos, professores e coordenadores. “A capacitação prevê exercícios nos quais os docentes identificam os conhecimentos, habilidades e atitudes contidas no perfil profissional de conclusão do curso que irão ministrar, possibilitando, assim, a discussão, o confronto e a análise do conceito e das concepções de saúde subjacentes às práticas dos docentes e dos alunos. Tais exercícios objetivam a coerência entre a operacionalização dos currículos e dos pressupostos do projeto pedagógico do Cefope”, escreve a autora.

Lêda também explica como o Cefope organiza a metodologia dos cursos e quais são os princípios pedagógicos norteadores da ETSUS. Segundo ela, para uma aprendizagem integral, é preciso que os alunos “relacionem o novo conhecimento de maneira consistente e coerente à sua estrutura cognitiva, desenvolvendo uma aprendizagem significativa, ou seja, a compreensão do significado e do sentido dos conteúdos que estão estudando e das relações destes com a sua vida, com o seu trabalho e com a sociedade”.

Ao analisar o relato dos docentes dos cursos de THD e ACS, Lêda conclui que a capacitação pedagógica do Cefope os ajudou a sair do modelo tradicional de ensino -  que, segundo Lêda, se caracteriza pelo fato de o aluno ser visto como uma caixa vazia – para uma prática que envolva reflexão e criação, na qual os atores envolvidos possam traçar seus próprios percursos. De acordo com os professores, uma das principais dificuldades foi exatamente entender essa metodologia. Para uma das professoras entrevistadas pela pesquisadora, a capacitação permitiu que ela entendesse a importância de, mesmo em aulas que aparentemente são técnicas, instigar no aluno a reflexão sobre aquele procedimento. “Na matéria ‘Prática de manipulação de materiais odontológicos’, na qual a repetição é importante para se alcançar a perfeição técnica, eu precisava instigar as alunas a pensarem porque a manipulação de um determinado material deveria ser realizada daquela forma e não de outra”, diz a professora do THD, completando: “Seria mais fácil apenas demonstrar as técnicas e induzi-las a repeti-las”, avalia.

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