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01/12/2005 Versão para impressãoEnviar por email

Necessidades de saúde sob o ponto de vista da diversidade étnica

A Escola Técnica do SUS do município de São Paulo incluiu a temática racial no currículo do curso de técnico em enfermagem. Três turmas já discutiram o assunto na unidade que trata sobre vigilância em saúde, focada, entre outras questões, na diversidade social e na necessidade de saúde. “A abordagem das questões de raça, etnia e gênero foram muito bem recebidas pelos alunos”, explica Alva Helena de Almeida, docente da ETSUS São Paulo e integrante da Comissão Municipal de Saúde da População Negra.

A iniciativa teve como base dois documentos de importância nacional: o relatório da 12ª Conferência Nacional de Saúde, de dezembro de 2003, e o Plano Nacional de Saúde, aprovado em dezembro de 2004 e que tem como uma de suas diretrizes a redução das desigualdades raciais. A professora Alba Helena relatou ainda que a Conferência foi a ocasião em que os representantes puderam incluir suas reinvindicações relativas à saúde da população negra em todos os eixos temáticos. No relatório final, estabeleceram-se como metas a garantia da saúde individual e coletiva dos grupos étnicos e raciais, a promoção de ações humanizadas,que possam abolir todas as formas de discriminação, incluindo especificidades de gênero, orientação sexual,raça e etnia; e a melhoria das práticas educativas dos profissionais de saúde,entre outras.

Para se habilitarem a tratar do assunto em sala de aula, os professores passaram por uma capacitação técnico-pedagógica, distribuída em três módulos de 20 horas cada. Atemática racial fez parte do segundo módulo, no qual os docentes utilizaram apostilas, teses e dados epidemiológicos. Em julho deste ano,a Escola expôs três pôsteres tratando do tema no Congresso da Rede Unida, em Belo Horizonte, e no Congresso de Ciências Sociais em Saúde, da Abrasco, em Florianópolis.

De acordo com Alva Helena, alguns professores demonstraram inicialmente um certo estranhamento quanto à implantação do tema, mas no momento a resposta tem sido positiva. A maior dificuldade, segundo ela, gerada por essa resistência, foi conseguira realização das Oficinas de Diversidade Social com os coordenadores dos cursos de especialização em Saúde da Família.

A ETSUS-SP pretende também incluir a temática em outros cursos, como o de técnico em farmácia, cuja discussão está em estágio inicial. A intenção é utilizar a experiência étnica da produção de medicamentos naturais, a partir de ervas e folhas. Outra medida foi a inclusão das classificações de cor/raça nas fichas de cadastro de alunos e docentes dos cursos de ACS, baseadas nos critérios do IBGE.

A abordagem dos temas raciais está sendo conduzida pela professora Maria do Carmo Monteiro, que é enfermeira especialista em Saúde Pública, membro titular da Comissão Municipal de Saúde da População Negra e do Comitê Nacional de Saúde da População Negra. A experiência foi motivada pela constatação de que os problemas de saúde pública enfrentadas pela população negra não se restringem à questão social, mas têm origem na própria escravidão, marco na História do Brasil, cujos efeitos são percebidos até os dias de hoje. Para a Escola, o que confirma esse quadro são as estatísticas apontadas pelo Atlas Racial Brasileiro de 2004, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

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