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15/03/2005 Versão para impressãoEnviar por email

?A principal razão do conhecimento é a autonomia?

Natal

Ao longo dos próximos 15 meses, 36 alunas da turma-piloto do curso de técnico de higiene dental do Cefope, de Natal, vão se tornar ‘cidadãs críticas e profissionais mais reflexivas’. A promessa é de Lêda Hansen,coordenadora do curso e entusiasta da saúde bucal. O curso começou oficial-mente no dia 25 de fevereiro, com a aula inaugural ‘O burrico e o beija-flor:lições sobre agir pensar’, apresentada por Caco Xavier, filósofo e jornalista da  Fundação Oswaldo Cruz, estudioso de comunicação em saúde e, como vão lembrar os mais atentos, autor da tirinha (Caiu na Rede é peixe!) e das ilustrações da Revista RET-SUS. Estiveram presentes na abertura do curso o secretário de saúde do Rio Grande do Norte, Rui Pereira; o secretário-adjunto da secretaria de saúde de Natal,Íon de Andrade; e o presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Rio Grande do Norte,Newman Azevedo.

Um burro tenta morder uma cenoura amarrada na testa. Não pensa e não age. Um beija-flor se esforça para levar, com o bico, água suficiente para apagar um incêndio. Age, mas não pensa. Dessas duas fábulas saíram as lições da aula inaugural dessa turma,sobre agir e pensar, conhecer e aprender. Passeando por grandes nomes da filosofia, Caco Xavier defendeu que conhecimento e aprendizagem são sempre da ordem do novo. Ele classificou a aprendizagem em duas categorias: a‘instrumental’, baseada na mudança de hábitos; e aquela derivada do latim‘aprehendere’, que acontece de dentro para fora e que se concentra em mudar paradigmas. Ele lembrou que, de qualquer forma, o conhecimento é sempre ambíguo porque gera, ao mesmo tempo, poder e questionamento, rebeldia.

A segunda parte da aula foi um caminho rumo à constatação de que a razão principal do conhecimento e da Educação é a busca pela autonomia,entendida como capacidade de“pensar e agir segundo suas próprias‘normas’ internas”. “Há vários motivos para que mulheres que têm vida familiar, problemas, maridos, filhos e inúmeros afazeres, como vocês,disponham-se a freqüentar um curso puxado como este: perspectiva de maior ganho financeiro, realização profissional. Mas um só é o motivo subjacente: aumentar a autonomia, de um modo ou de outro”, disse. Mas a autonomia pelo conhecimento tem,segundo o palestrante, pelo menos dois preços: um é a angústia de saber mais;o outro é a necessidade de provocar mudanças no ambiente. Aqui entra a terceira imagem metafórica: a alegoria da caverna, de Platão, segundo a qual pessoas passam a vida amarradas numa caverna, só enxergando sombras,e acreditam que esse é o mundo real,até que uma delas sai e volta para interferir naquela realidade. “Quem conhece modifica primeiro a si mesmo, depois, o mundo e, por fim, o próprio corpo do conhecimento, que é revitalizado, cumulado, combinado e,por vezes, substituído”, concluiu.

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