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escola em foco
Práticas integrativas em saúde, sinônimo de inovação educacional


EFTS observa na Política Nacional de Práticas Integrativas Complementares forma de inovar seus currículos

Jéssica Santos

Atenta à Política Nacional de Práticas Integrativas Complementares no SUS (PNPIC), a Escola Técnica em Saúde Professor Jorge Novis (EFTS), na Bahia, trata do tema nos currículos de suas formações, inovando seus processos de ensino e aprendizagem. A temática foi inserida, inicialmente, nos currículos dos cursos técnicos em Agentes Comunitários de Saúde, Enfermagem e Saúde Bucal. “O que pretendemos é inserir estes conteúdos com maior propriedade nos currículos de todos os cursos, para que o conhecimento esteja acessível a toda população”, anunciou a enfermeira e coordenadora da unidade descentralizada da EFTS, no município de Itaberaba, Elânia Moraes Sant’ Ana, lembrando que a escola sempre teve uma estreita relação com os agentes comunitários e outros profissionais de nível médio do estado da Bahia, o que favoreceu o debate. “Fizemos isso por meio de módulo transversal e complementar à organização curricular, compondo, assim, as estratégias de organização das ações e serviços de saúde que operam sobre os efeitos do adoecer”, acrescentou Geisa Plácido, assessora-técnica da diretoria da escola.

De acordo com Geisa, o trabalho prioriza o espaço do diálogo a partir das condições de vida e do modo de viver das populações, possibilitando aos sujeitos escolhas saudáveis dentro de seus próprios territórios.  Isso porque, como explicou Elânia, as práticas integrativas e complementares orientam o trabalho de prevenção, promoção e recuperação da saúde. “Utilizando-se da escuta qualificada, do respeito às diversidades culturais e do conhecimento popular, estas práticas têm como finalidades promover hábitos saudáveis e provocar a reabilitação da saúde, por meio de recursos naturais de grande eficácia, sem danos para a saúde do indivíduo e com baixo custo”, avaliou.

Multiplicadores do conhecimento

A proposta de inserção do tema nos currículos de formação profissional em saúde balizou-se no curso Práticas Integrativas em Saúde, oferecido pela própria EFTS, em setembro e outubro de 2013, do qual Elânia e 17 coordenadores e docentes da escola fizeram parte. “O curso pretendeu contribuir para que as formadoras da EFTS tomassem conhecimento acerca dos aspectos teóricos e práticos das práticas integrativas e complementares”, explicou Áureo Augusto Caribé de Azevedo, professor da qualificação e médico da Unidade de Saúde da Família de Caeté-Açu, no município de Palmeiras (BA), onde foi criada uma horta medicinal, sob a sua orientação.

Com 40 horas de aula, a formação foi organizada em dois módulos. O primeiro tratou dos aspectos teóricos e filosóficos das práticas integrativas complementares em saúde. O segundo, por sua vez, trouxe exemplos práticos dessa ação. O curso abordou os temas da introdução à história do pensamento científico, alimentação natural, autocuidado e funcionamento do corpo humano na visão das práticas integrativas complementares em saúde e trouxe exemplos de procedimentos hidroterapêuticos e de cuidados com hipertensos e diabéticos. “A maior parte do curso é acompanhado de ensaios e procedimentos terapêuticos”, contou o médico.

“Além de ser pioneira na proposta de inclusão do tema nos currículos de formações, a EFTS cumpre, mais uma vez, o seu papel de promotora da saúde, sob a perspectiva da formação dos seus profissionais direcionada aos hábitos saudáveis”, observou a diretora da EFTS, Maria José Camarão, para quem o curso ajudou a fortalecer a equipe técnica responsável pela elaboração dos módulos das formações oferecidas pela instituição.

Para Azevedo, conhecer a teoria e entender o funcionamento das práticas não alopáticas é ter condições de partilhar outros conhecimentos. “O foco está no ato de gerar condições para que o organismo cure a si próprio, com uso da alimentação natural, da massoterapia, da hidroterapia, entre outros métodos terapêuticos complementares”, enumerou. Segundo ele, ao conhecer a filosofia de trabalho dessas práticas, o educador poderá introduzir o conhecimento entre seus alunos, tornando-se multiplicador de terapias eficientes e eficazes.

O mesmo observou Elânia, informando que participou do curso da EFTS motivada pela vontade de cuidar melhor da própria saúde, enquanto trabalhadora do SUS, bem como pela ideia de “tornar-se agente multiplicador no ambiente de trabalho e nos espaços comunitários e escolares”.

De acordo com Azevedo, as práticas integrativas tentam reconhecer a identidade da pessoa, evitando olhar o sujeito como um objeto. “É um engano nosso ver a pessoa doente como um objeto de estudo ou da ação terapêutica do profissional da saúde. Isso retira do ser humano sua humanidade”, orientou. Ele salientou que, nesse contexto de “coisificação” do ser humano, a atividade terapêutica acaba focada no “fazer pelo paciente”, como se ele fosse sempre incapaz. “Isso já não acontece com as práticas integrativas complementares, que entendem o sujeito como um ser integral”, explicou. “As práticas integrativas abrem um leque de possibilidades, que são mais coerentes com a nossa forma de pensar a saúde, permitindo sensibilizar os nossos discentes quanto à relevância do conhecimento popular, dos recursos oferecidos pela natureza, da escuta qualificada, do autocuidado para a manutenção e a recuperação da saúde”, avaliou Elânia.

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Segundo o documento que trata da PNPIC, publicado pelo Ministério da Saúde em 2006, o campo “contempla sistemas médicos complexos e recursos terapêuticos, os quais são também denominados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de medicina tradicional e complementar/alternativa”. Tais sistemas e recursos, diz o texto da política, “envolvem abordagens que buscam estimular os mecanismos naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde por meio de tecnologias eficazes e seguras, com ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade”. 

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