revista ret-sus . seções . trajetórias

Versão para impressãoEnviar por email

trajetórias
Imunologia de forma lúdica

Professora da EPSJV, Flávia Ribeiro cria jogo pedagógico sobre conteúdos complexos, estimulando o processo de aprendizagem de alunos do ensino médio.

Flavia Lima


O que poderia ser uma simples brincadeira tornou-se um estímulo ao estudo das células e órgãos e sua interação no sistema imunológico. Do que se trata? Do Imunoreal, um jogo pedagógico de perguntas e respostas, com 40 cartas — cada uma contendo uma questão e cinco alternativas —, sobre os conteúdos da disciplina de Imunologia do Curso Técnico de Nível Médio em Saúde Integrado ao Ensino Médio, na habilitação Análises Clínicas, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). Criado pela professora-pesquisadora da EPSJV Flávia Ribeiro, o jogo tem como finalidade estimular o processo de aprendizagem de estudantes adolescentes, facilitando o entendimento sobre a matéria. “Os jovens estão sujeitos a um bombardeio de informações que desviam a atenção deles. Por isso, é importante buscar alternativas didáticas que chamem a atenção deles e facilitem a compreensão do conteúdo”, justifica a professora, que ministra a disciplina desde 2008, lançando o jogo em 2010, na turma de terceiro ano do curso técnico, como uma revisão de todo o conteúdo da Imunologia, antes da aplicação das provas.

De acordo com Flávia, a dinâmica do jogo é simples: a turma é dividida em quatro equipes, que escolhem nomes para o time — como C3 Convertase, Ig Ótimos, Ostimócitos, Imunoglobinas Perspicazes e Inteligência Inata —  relacionados ao conteúdo da disciplina. Após sortear a equipe que vai começar, um representante do grupo escolhe uma carta com uma pergunta. A professora lê a questão e as alternativas e o aluno escolhido pelo grupo diz se vai responder sozinho ou se precisará da ajuda dos colegas. “Ele vai ter um minuto na ampulheta para responder a pergunta. Se acertar, ganha dois imunoreais. Se tiver dúvida, pode perguntar aos colegas. Neste caso, em caso de acerto, ganha somente um imunoreal”, explicou, ressaltando que são os próprios alunos que informam se a resposta está correta ou não. “O jogo faz com que o aluno supere seus próprios limites, estimulando o trabalho em equipe e provocando uma discussão entre eles”, salientou. Na avaliação da idealizadora, a iniciativa propicia ao aluno a aquisição de conhecimento sobre o sistema imunológico e a função de seus componentes, assim como a sua aplicação no diagnóstico, de forma bastante prazerosa.

Diversão e interação

A professora recorda que, inicialmente, a proposta do Imunoreal era apenas revisar o conteúdo da matéria antes de aplicar a prova. O jogo, porém, superou as expectativas: “Eu aplico um questionário para que os alunos digam, sem se identificar, suas impressões sobre a atividade. Muitos me revelaram que a iniciativa aumentou o conhecimento, serviu para fazer uma autocrítica da matéria etc e tal”, cita. Segundo ela, os alunos observam que o jogo propicia maior interação da turma e possibilita o trabalho em equipe.

Flavia revela que o jogo permite a compreensão dos fundamentos teóricos, e não apenas a sua execução de maneira pragmática. “Esse fato leva à formação de um indivíduo crítico, capaz de interpretar seus resultados e analisar o seu processo de trabalho, a fim de identificar e corrigir possíveis erros ocorridos durante o processo. Além disso, tendo o trabalho como princípio educativo, ele pode intervir junto à sociedade”, orienta.

À luz do Imunoreal, a professora estuda uma proposta de jogo que agregue os conteúdos das oito disciplinas do Curso Técnico em Análises Clínicas — Hematologia, Biologia Molecular, Histologia, Parasitologia, Bacteriologia, Fluidos Corporais, Imunologia e Virologia.  “A ideia é que o jogo seja usado em conjunto por todos os professores do curso como uma espécie de revisão, no último ano de formação, antes de os alunos entrarem no estágio”, revela.

Segundo ela, a ideia está sendo avaliada pelo Laboratório de Educação Profissional em Técnicas Laboratoriais em Saúde (Latec) da EPSJV, responsável pela promoção de atividades de ensino, pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico em educação profissional. “O jogo serve de revisão do conhecimento, instigando os alunos a buscarem por novos desafios, possibilitando as trocas entre os colegas e permitindo ao professor observar e perceber se o conteúdo foi apreendido devidamente”, defende a professora, para quem a utilização de jogos didáticos contribui positivamente no processo de ensino-aprendizagem.

Além do Imunoreal, Flávia criou também o Úlserá?, cujas regras são semelhantes a uma partida de buraco, com cartas que representam células e outros elementos do sistema imunológico. Nesse jogo, os alunos devem formar trios e quintetos com as imagens correlacionadas. “Criei uma logo, desenhei as 52 cartas e construí o protótipo. Emprestei para os alunos, que adoraram. Sempre os via jogando nos corredores da EPSJV”, conta a professora, lamentando-se de ter perdido o material. “O protótipo foi perdido, mas a experiência foi excelente e me impulsionou a pesquisar mais. Quem sabe esse jogo possa ser distribuído para as escolas públicas”, deseja.

Tema de monografia

Graduada em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), em Campos dos Goytacazes, mestre em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Viçosa (MG) e doutora em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas pela Fundação Oswaldo Cruz, Flávia Ribeiro conta que o uso de jogos em sala de aula a motivou a escolher o tema para seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do curso de Especialização em Docência em Educação Profissional em Saúde da EPSJV.

Segundo ela, o trabalho intitulado Jogos para adolescentes na área de Ciências Biológicas: uma estratégia didática teve como objetivo discutir as possibilidades de aplicação dos jogos em sala de aula, a fim de facilitar a compreensão do conteúdo pelo aluno. Em sua pesquisa, concluída neste ano de 2014, Flávia identificou que o jogo é bem aceito pelos alunos adolescentes, que se sentem motivados a estudar mais. O estudo concluiu que o jogo pode auxiliar o processo de aprendizagem na revisão do conteúdo, na relação entre os alunos e na percepção do conteúdo apreendido. “Os alunos dizem que o jogo é dinâmico, interativo, divertido e criativo. E que, além de ajudar a revisar o conteúdo, por meio de uma abordagem mais simplificada, permite verificar seu grau de conhecimento, funcionando como uma autoavaliação”, finaliza.
 

Galeria de Fotos

Comentar