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Indígenas vivenciam uma verdadeira epidemia de mortes autoinfligidas

Segundo o último censo demográfico brasileiro (2010), os indígenas representam 0,4% da população do país. No entanto, respondem por 1% do total de suicídios no Brasil, duas vezes e meia a mais do que o esperado, se observado a proporção populacional. O índice é maior nas regiões Norte e Centro-Oeste do país, onde a miséria e os conflitos de terras são preponderantes. Somente no estado do Amazonas, onde a população indígena representa 4,9% da população total, 20,9% dos suicídios ocorrem entre indígenas. Em Mato Grosso do Sul, eles são 2,9% da população, mas respondem por 19,9% dos suicídios. A taxa de suicídio entre os povos indígenas, que chega a ser até 20 vezes maior em alguns municípios comparada à média nacional — que é de 5,3 casos a cada cem mil habitantes, segundo o Mapa da Violência, divulgado pelo Ministério da Saúde em 2012 —, confirma uma verdadeira epidemia de mortes autoinfligidas e que atinge, especialmente, os jovens indígenas.

Na Região Norte, especialmente nos municípios de São Gabriel da Cachoeira, São Paulo de Olivença e Tabatinga, no estado do Amazonas, os suicídios passaram de 390, em 2002, para 693, em 2012, o que representou aumento de 77,7%.  Esses números são confirmados por uma pesquisa sobre o mesmo tema, realizada pelo Laboratório de Estudos Interdisciplinares em Populações Indígenas e Vulneráveis (Leis) do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD) — unidade da Fiocruz no Amazonas —, na qual o município de São Gabriel da Cachoeira (AM), cidade com a maior proporção de indígenas autodeclarados (80% da população), é o líder do ranking. Segundo o levantamento, de 2008 a 2012, foram registrados no município 68 suicídios indígenas (93% do total de casos). Coordenador do Leis, o psiquiatra Maximiliano Ponte de Souza revela que, em geral, os suicídios são cometidos por jovens que se matam por enforcamento sob estado de embriaguez, conflito com os pais, frustração ou problema amoroso.

Na Região Centro-Oeste, os maiores índices são do estado do Mato Grosso do Sul. Segundo o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) da região, foram registrados 244 suicídios, entre 1986 e 1997, subindo para 650 mortes, de 2000 a 2013. As taxas anuais de suicídios no estado, ao longo desse período, variaram entre 75 e 90 casos por cem mil habitantes. De acordo com a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai/MS), 20% dos casos identificados nos últimos dez anos foram acometidos pelos Guarani-Kaiowa, segundo maior grupo indígena do país. Em 2013, informa a Sesai, foram registrados 73 casos de suicídio de indígenas em Mato Grosso do Sul — o maior índice em 28 anos —, contra 18 casos de não índios. Desse total, 72 casos eram do povo Guarani-Kaiowa.
 

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