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Renovar para fortalecer

Encontro de escolas propõe troca de experiências e uma nova identidade.

Ana Paula Evangelista e Flavia Lima
 

O 11º Encontro Nacional da Rede de Escolas e Centros Formadores em Saúde Pública, agora conhecida como RedEscola, destacou-se pela inauguração de um novo ciclo, que incluiu as renovações da marca e do modelo de operar em rede.  “Esse encontro foi concebido sob a égide da renovação e pautou-se na ideia da qualidade”, frisou a coordenadora da Secretaria Executiva da Rede, Rosa Souza. Promovido em junho, no Rio de Janeiro, o evento reuniu as 47 escolas integrantes, a Escola de Saúde Pública Dr. Salvador Allende — membro honorário, do Chile, compartilhando de forma inédita experiências acerca da formação em saúde —, e a Secretaria de Comunicação da Rede de Escolas Técnicas do SUS (RET-SUS), sediada na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), vizinha à Escola de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), sede da Secretaria Executiva da RedEscola. “Apesar dos poucos anos de existência [criada em 2007], foram muitos os momentos em que tivemos de nos reinventar”, esclareceu Caco Xavier, coordenador interino da Secretaria Executiva da Rede. Em sua observação, no momento em que essa qualidade de renovação não for percebida, a RedEscola terá perdido a capacidade de responder aos problemas.

“Somos um país de dimensões continentais e enormes diferenças regionais que precisam emergir na formação em saúde, da epidemiologia à gestão, sempre valorizando e favorecendo o que é público”. A observação foi do diretor da Ensp/Fiocruz, Hermano Albuquerque de Castro, reforçando, ainda, a importância de garantir uma política de transparência no acesso ao conhecimento e o papel das escolas na formação humana. Frederico Peres da Costa, vice-diretor da unidade, elencou alguns desafios para o grupo, destacando a responsabilidade da Rede com a valorização da política de cooperação das escolas e a possibilidade de discutir a identidade e a característica dos sanitaristas que estão formando. “Outro desafio é definir critérios e condições básicas para que todas as escolas possam atuar com a mesma importância e a possibilidade de discutir transferência de tecnologia e projetos que fortaleçam as capacidades locais”, orientou.

Construção coletiva

Um novo regulamento foi proposto a fim de garantir a funcionalidade da Rede que cresceu bastante em tamanho e complexidade. Desta pauta, fez parte a redefinição da missão, visão, valores e atribuições da estrutura de governança da Rede, da qual fazem parte a Secretaria Executiva, o Conselho Consultivo e o Grupo de Condução. Paralelamente, foram propostas uma nova marca e a alteração do nome Rede de Escolas e Centros Formadores em saúde Pública/Coletiva para Rede Brasileira de Escolas de Saúde Pública (RedEscola). “A renovação que queremos agora é fruto de uma paciente construção interna, que ganha visibilidade com a validação de um regulamento, com a maturidade dos ambientes decisórios e, por fim, da criação de uma nova marca para a Rede”, citou Caco. Ele explica que o regulamento é um conjunto de regras construídas coletivamente com a finalidade de organizar o funcionamento e as ações da Rede. “É uma forma de valorizar as escolas, entendendo que não há hierarquia nas relações”, salientou. 

Já, o Grupo de Condução da RedEscola — também em processo de renovação, com o ingresso de três novos membros titulares e cinco novos suplentes, escolhidos por consenso — é uma estrutura colegiada de gestão, formada por dez integrantes das escolas e pela Secretaria Executiva, a partir de critérios de representatividade das diferentes regiões do país e de engajamento nas atividades da Rede. A missão do grupo é elaborar, executar e monitorar a agenda da Rede, propor e criar espaços de discussão, intercambiar informações, socializar recursos, potencializar os atores da rede, estimular os debates temáticos pautados nas grandes reuniões e exercitar coletivamente a coordenação.

Inovação

O encontro contou, também, com o compartilhamento de experiências de inovação em Educação Permanente em Saúde, Gestão e Comunicação, as discussões em torno da Agência de Acreditação Pedagógica, a Oficina de Transparência de Tecnologia de Educação à Distância para as escolas e os resultados preliminares do projeto de informação para a gestão que recebeu o nome Conhecer para Compartilhar, Compartilhar para Conhecer. Quanto a este último, verificou-se que 72% das escolas responderam ter assessoria de comunicação e 81%, ter site. Na utilização da Rede Social, 19 das 32 instituições relataram usar Facebook (50%), Youtube (11%), Twitter (22%) e outros (17%).  Foi identificada a produção de publicações como boletim informativo (32%), revista (18%), jornal (5%) e livros (10%). Porém, apenas 32% das escolas revelaram ter um plano ou uma política de comunicação. Para tanto, a Secretaria Executiva da Rede enviou formulários às 48 escolas — sendo que apenas 32 (67%) responderam —, por meio dos quais se buscou investigar os âmbitos administrativo, gerencial, de infraestrutura, pedagógico e de comunicação das instituições.

Para Rosa, os principais desafios são ampliar o grau de pertencimento das escolas que integram a RedEscola e disseminar a missão, a visão e, sobretudo, os valores das instituições que dão suporte à Rede. “Precisamos avançar no apoio às escolas em relação às inovações pedagógicas, na busca do estreitamento das relações com outras redes de formação e no fortalecimento e ampliação de parcerias”, defendeu.

Experiência exitosa

O compartilhamento de iniciativas se destacou com a Oficina de Educação Popular em Saúde Mental para Populações Assentadas e Acampadas em Projetos de Reforma Agrária, realizada pela Escola de Saúde Pública de Minas Gerais (ESP-MG), integrante da RedEscolas e da RET-SUS, entre os anos 2012 e 2013. A superintendente de Educação da unidade, Ludmila Brito e Melo Rocha, contou que a iniciativa foi elaborada de forma que permitisse aos atores envolvidos a reflexão sobre a relação entre a saúde mental e as condições de vida e saúde dessas populações, fortalecendo práticas de cuidado em saúde mental e promoção da saúde e estimulando o diálogo e o desenvolvimento conjunto (populações acampadas e assentadas e profissionais de saúde) de práticas de saúde. “A direção da ESP-MG entende que a RedEscola é um espaço estratégico de posicionamento político e técnico das escolas e centros formadores em saúde pública e que deve ser utilizado para que as instituições ganhem força, aprimorarem a Educação Permanente e, ainda, fortaleçam o SUS”, justificou.

A proposta baseou-se nos princípios da educação popular em saúde e foi orientada por uma metodologia dialógica, tendo como focos o conhecimento crítico da realidade, a valorização dos saberes locais, a relação entre teoria e prática e a articulação dos diversos atores sociais. O projeto foi organizado em três etapas presenciais. A primeira envolveu 35 lideranças de saúde do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), de Minas Gerais, de cerca de 30 acampamentos e assentamentos. A segunda, 35 trabalhadores do SUS de 20 municípios mineiros. A terceira, 70 participantes em geral. “A oficina tinha como objetivo contribuir com a produc?a?o de cuidados que respondessem a?s necessidades de sau?de das populac?o?es assentadas e acampadas, sobretudo àquelas relacionadas ao uso abusivo de drogas e ao sofrimento mental grave”, detalhou Ludmila.

Ela recordou que o projeto  resultou na produção de novas compreenso?es sobre o sofrimento mental e o uso nocivo de a?lcool e outras drogas, além de valorizar as pra?ticas de cuidado e as formas de luta por sau?de de todos os envolvidos. Segundo a superintendente de educação da ESP-MG, a experiência foi realizada em conjunto com militantes do setor Sau?de do MST, trabalhadores das redes pu?blicas de atenc?a?o dos munici?pios e trabalhadores da ESP-MG, em parceira com a Secretaria de Estado de Sau?de de Minas Gerais. “A demanda dessa ação nasceu no seio do MST, onde o movimento identificou a necessidade de aprofundar algumas temáticas da saúde mental, iniciando assim diálogos entre o movimento dos sem-terra e o SUS”, revelou.

Ludmila apontou, ainda, estratégias utilizadas pela escola para a realização da oficina. Nas etapas presenciais, os alunos participaram de rodas de conversa, com exposições dialogadas, incluindo pra?ticas integrativas e complementares, recursos terape?uticos e o mapeamento da rede de sau?de mental no territo?rio e da situac?a?o de acesso. Também foram utilizados vídeos documentários, dramatização, integração cultural etc.

Diálogo permanente

A RedEscola é um espaço de diálogo permanente entre instituições de ensino de saúde no Brasil, favoráveis à construção de consensos em torno de uma educação permanente, que valorize a transformação das práticas profissionais e da organização do trabalho e que fortaleça o controle social. Portanto, está comprometida com uma cultura de cooperação, favorecendo a construção compartilhada e a circulação de conhecimentos e o desenvolvimento de competências no interior do SUS.

Sua coordenação é de responsabilidade da Secretaria Executiva, sediada na Ensp/Fiocruz, do Grupo de Condução — composto por representantes de 10 escolas que se reúnem a cada três meses — e do Conselho Consultivo — que envolve órgãos ligados ao Ministério da Saúde. Esse corpo técnico se propõe a impulsionar os processos diretivos da Rede, acompanhando sua evolução e sugerindo programas de renovação. Somente o Grupo de Condução passou a contar com oito novos integrantes, sendo três titulares e cinco suplentes, eleitos por consenso e negociação entre os candidatos e as escolas. Os titulares eleitos, durante a 11ª edição do encontro da Rede, foram: Tatiana Wargas (Ensp/Fiocruz) e Paulo Capel Narvai (FSP/USP), pela Região Sudeste; e Stella Ribeiro (ESP-RS), representando a Região Sul. Os suplentes foram: Roseni Sena (ESP-MG); Márcio Almeida (ESP-PR); Juliana Bruno (FESP-Palmas); Célia Santana (ESP-PE); e Nelson Barbosa (ESP-GO).

Elos fortalecidos

A formação para o SUS é elo entre a RedEscola e a RET-SUS, além das instituições que compõem as duas redes e de possibilidades de ações conjuntas.  “Nossos objetivos são convergentes, uma vez que ambas buscam ampliar e melhorar os processos formativos em saúde com vistas a atender as necessidades e demandas do SUS”, observou Rosa. Ele defendeu o desenvolvimento de uma articulação mais efetiva entre as redes, que saia do campo do desejo e parta para o campo da ação. “Trata-se de identificar ações e estratégias que contribuam para a melhoria da qualidade dos processos formativos voltados para o SUS que envolvem trabalhadores e profissionais de saúde sem distinção de níveis”, explicou.

O pensamento é compartilhado entre as escolas que participam da RedEscola e da RET-SUS. Para Maria Socorro de Araújo Dias, diretora da Escola de Formação em Saúde da Família Visconde Sabóia (EFSFVS), em Sobral (CE), as redes se alinham quanto ao compromisso com a Política Nacional de Educação na Saúde e, consequentemente, com os sistemas locais, regionais e nacional de Saúde. “Parte-se de uma compreensão de que as redes se configuram como arranjos interinstitucionais contemporâneos que possibilitam, entre outros subprodutos, a conexão entre os diferentes, a mobilidade que rompe fronteiras de projetos, ideias e pessoas, superando a noção de espaço e recriando outras geometrias de organização, e a formação de vínculos e diálogos entre partes interessadas”, detalhou.

Outro gestor a defender a integração das redes foi Andrei Mozzer, diretor do Núcleo de Educação e Formação em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde do Espírito Santo (Nuefs). Em sua observação, as redes precisam trabalhar harmonicamente, visto que algumas ações educativas desenvolvidas têm os mesmos público alvo e objetivos.

A ESP-MG, representada no evento por Rodrigo Machado, assessor de diretoria da escola, explicou que as duas redes se encontram quando buscam construir estratégias para o enfrentamento dos desafios apresentados à educação em Saúde. O mesmo observou Célia Borges, diretora da Escola de Governo em Saúde Pública (ESP-PE). Ela elencou alguns aspectos que as redes têm em comum, entre eles a defesa pela formação dos trabalhadores da Saúde pautada nos princípios e diretrizes do SUS e na Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Alem disso, acrescentou, são redes que estão em defesa da gestão pública, colegiada e participativa e valorizam a produção e a troca de saberes.

 

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