“Olha, não me importa se temos poucos recursos, o que mais me deixa alegre, feliz mesmo, é que estamos envolvendo uma nova geração nessa história”
“Eu não sou visionária, sou otimista”. Assim Izabel dos Santos se definia. O otimismo e a crença de que a educação é o melhor caminho para a inclusão fizeram dela uma das principais personagens da história brasileira da educação profissional em saúde. Izabel dos Santos criou e desenvolveu importantes políticas de inclusão na área de recursos humanos para o setor. Sua morte, ocorrida em Brasília na tarde do dia 1º de dezembro aos 83 anos, provocou reações que confirmam que sua dedicação não foi em vão. Ela semeou em muitos profissionais e instituições a vontade de lutar por um melhor atendimento no Sistema Único de Saúde a partir do esforço das Escolas Técnicas do SUS na formação de profissionais qualificados.
Mineira de Pirapora, Izabel passou a infância em uma fazenda. Saiu da “roça”, como chamava a casa dos pais, para estudar e morar com uma tia. Um padre da cidade ofereceu-se para financiar o curso de Enfermagem em Belo Horizonte, desde que ela se comprometesse a, depois de formada, voltar à cidade para organizar um serviço de saúde para a população pobre. Graduou-se em 1950 na Escola de Enfermagem Hugo Werneck. Foi convidada, então, a ingressar no Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp). No entanto, lembrou-se da promessa feita ao padre, que acabou liberando-a, já que no Sesp, também trabalharia em Pirapora. Lá, organizou a unidade hospitalar do município e trabalhou como supervisora regional nas cidades de São Francisco, São Romão e Januária, ao norte do estado.
A personalidade forte e afetuosa ao mesmo tempo rendeu admiração e alguns problemas. Uma indisposição com uma “madame”, fez com que fosse transferida para o Rio de Janeiro e, posteriormente para Recife, onde passou por um dos piores momentos da história brasileira: a ditadura militar. Obteve licenciatura em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco e, mais tarde, cursou especialização em Enfermagem de Saúde Pública na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz).
Na década de 1960 fez parte de grupos de discussão sobre políticas públicas. Convidada pela representação brasileira da Organização Pan-Americada de Saúde (Opas-Brasil), integrou o comitê de seleção de livros para o Programa Ampliado de Livros de Texto e Materiais de Instrução (Paltex), iniciativa criada em 1968 com o objetivo de apoiar os governos latino-americanos na formação de recursos humanos de qualidade na área da saúde. Em 1970, integrou o grupo técnico do Projeto de Preparação Estratégica de Pessoal em Saúde (PPREPS).
Izabel criou o Larga Escala, que, como definido em sua última entrevista, concedida à Revista RET-SUS, “fez com que o pessoal desqualificado não fosse uma paisagem, fosse reconhecido como problema contra a própria sociedade na prestação de assistência”. A lei que exigia a formação de enfermeiros e proibia que leigos trabalhassem como profissionais possibilitou que o Larga Escala fosse “turbinado”, dando origem ao Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem (Profae), que contou com o apoio da enfermeira no seu planejamento e implementação.
A fim de aumentar o alcance da educação profissional em saúde, Izabel foi grande defensora da implantação de ETSUS em todos os estados do país. A expansão das possibilidades de formação e o fortalecimento da Rede eram defendidos por ela.
Izabel dos Santos dedicou a vida à formação de profissionais e cidadãos que fossem capazes de refletir e, principalmente, transformar a sociedade. Ultrapassou inúmeras barreiras sempre em prol do outro. Até hoje, as diretrizes políticas e pedagógicas utilizadas nas ETSUS têm suas ideias como pedra fundamental. O otimismo dela permitiu não só resultados positivos como fomentou um legado importante que os profissionais da saúde não esquecerão tão cedo.
Leia a entrevista concedida por Izabel dos Santos à Revista RET-SUS de setembro clicando aqui
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