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01/04/2007 Versão para impressãoEnviar por email

Alunos pesquisam qualidade da água em Cuiabá

Analisar o processo de tratamento e abastecimento de água na região urbana de Cuiabá, levando em consideração o padrão de qualidade estabelecido por lei e a satisfação dos consumidores. Foi esse o objetivo do trabalho ‘Qualidade da água em Cuiabá’ apresentado pelos alunos João Pereira Valentin e José de Souza Morais no seminário de conclusão do curso Técnico de Vigilância Sanitária e Saúde Ambiental da Escola de Saúde Pública do Estado do Mato Grosso.

A monografia pode ser vista como prolongamento das atividades desenvolvidas durante o curso e do próprio trabalho diário dos autores, que são fiscais de vigilância sanitária do município de Cuiabá. Segundo João, vários motivos levaram à escolha do tema, mas o o mais importante é o fato de a água ser uma questão muito debatida hoje em dia. Além de já lidarem cotidianamente com o assunto, as aulas teóricas sobre qualidade da água e, principalmente, as visitas que a Escola promoveu às estações de tratamento de água (ETAs) do município ratificaram o interesse. “Nas aulas práticas, os alunos ainda puderam coletar e analisar, com a ajuda de técnicos, dados dos Vigiágua (Programa de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano) e do Siságua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano), o que contribuiu para o aprofundamento do tema”, afirma Márcia Regina Baicere, coordenadora do curso na ETSUS.

Caminho percorrido

A proposta inicial do trabalho era elaborar uma análise documental do controle da qualidade da água em Cuiabá e esclarecer a população sobre seus direitos e deveres de acordo com a legislação em vigor–Para isso, os alunos estudaram os relatórios de testes feitos na água durante o processo de tratamento pela Companhia de Saneamento da Capital de Mato Grosso (Sanecap) – disponibilizados pela própria empresa – e as portarias nº 36/1990, nº 1469/2000 e nº 518/2004/MS, que contêm parâmetros definidores da qualidade da água e procedimentos de vigilância a serem respeitados em todo o país. Os autores também consultaram artigos, livros, revistas especializadas, jornais e internet, a fim de conhecer as discussões mais atuais sobre o tema. Embora estivessem interessados em sondar o grau de satisfação da população em relação à água consumida e ao serviço prestado pela Sanecap, não houve tempo para a realização de entrevistas.

Resultados

Na introdução da monografia, os alunos relacionam a qualidade da água à ação humana, citando a Declaração Universal dos Direitos da Água – elaborada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1992 – segundo a qual a água tem valor econômico e sua escassez é uma ameaça real. “O item sete diz ainda que a água não deve ser poluída, envenenada e nem desperdiçada. Em nosso município, não é raro encontrarmos flagrantes desrespeitos à Declaração”, completam. Em seguida, é feita uma síntese das leis que regem o controle da qualidade da água em todo o território nacional.

O trabalho também ilustra e descreve detalhadamente as etapas de tratamento da água nas ETAs do município de Cuiabá, além de explicar a função de cada produto químico adicionado no processo de tratamento. “Os procedimentos para tratar a água são iguais em todos os lugares, mas a quantidade de produtos usados pode variar de acordo com a turbidez da água, que muda conforme o índice de chuvas, por exemplo”, explica João.

Na parte final do trabalho, os alunos reproduzem tabelas da Sanecap sobre testes realizados com a água nas oito ETAs da região urbana de Cuiabá e interpretam seus resultados. As principais irregularidades referiam-se aos índices de coliformes totais, coliformes termos tolerantes, pH e turbidez, que estavam acima do máximo permitido por lei – o que, de acordo com o documento, se deve a falhas no processo de tratamento ou à ocorrência de fortes chuvas na região –, mas foram “corrigidos imediatamente”.

Conclusões

Para os autores, o maior problema observado foi o fato de a Sanecap só realizar testes com a água cinco vezes ao dia, quando deveria fazer 12 — já que a portaria 518 diz que a água em tratamento nas estações deve ser avaliada a cada duas horas. Ainda assim, apesar de não terem feito pesquisa de opinião com a população, eles acreditam que a ausência de reclamações mostra que os consumidores estão satisfeitos e que a região urbana de Cuiabá recebe água de boa qualidade. O trabalho propõe, no entanto, que a empresa e os órgãos fiscalizadores revejam a freqüência com que são feitas as analises diárias da água. E incentivam: “É importante também que todos contribuam com o uso racional e consciente da água”.

Márcia Baicere acredita que a integração entre ensino e serviço e a elaboração de uma monografia de final de curso, que é uma exigência recente, contribuíram bastante para a formação dos trabalhadores. “Os alunos, de forma geral, foram estimulados a pesquisar os assuntos mais a fundo. Muitos estão ajudando a organizar a vigilância em seus municípios, carentes de recursos materiais e humanos, já tendo mudado o perfil do atendimento de acordo com a realidade local”, conta. João também elogia a metodologia adotada pela ETSUS e a oportunidade oferecida aos alunos de visitarem as ETAs do município, vista por ele como uma estratégia de manter a Sanecap ciente de que seu trabalho está sendo observado. “Talvez a nossa monografia sozinha não provoque a discussão da população em torno da questão da água, mas a iniciativa da Escola de nos levar até a empresa é uma forma de mostrar que estamos ‘de olho’ no seu trabalho, que temos interesse pela qualidade da água de Cuiabá. Além disso, essa experiência nos enriquece muito, adquirimos maior conhecimento e desempenhamos melhor nossas funções”, diz.

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