Formação de ACS, de THD,capacitação pedagógica... Com tantas atividades, a maioria das instituições de ensino técnico geralmente tem pouco tempo para investir nas práticas de pesquisa e na produção de conhecimento. Reconhecendo a necessidade de mudar esse panorama, a Escola de Formação Técnica em Saúde Enfermeira Izabel dos Santos (ETIS), do Rio de Janeiro, está trabalhando na criação de um núcleo que se dedique à produção científica, através de uma Coordenação da Pesquisa, sob a tutela de Márcia Motta, médica com mestrado e doutorado em saúde pública da criança e da mulher.
Como ponto de partida, em abril do ano passado, a ETIS inseriu nos currículos dos seus cursos de auxiliar e técnico de enfermagem uma unidade de estudos sobre pesquisa em saúde e, em dezembro último, criou uma videoteca e uma biblioteca. E para tornar a iniciativa uma realidade, a coordenadora Márcia Motta encaminhou à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), um projeto de auxílio-instalação, solicitando o material necessário à infra-estrutura do núcleo. A Escola ainda ofereceu ao seu corpo docente um curso de metodologia da pesquisa aplicada à saúde e à educação profissional. A estratégia foi qualificar seus professores e coordenadores para tornar a pesquisa uma prática cotidiana. O curso teve 49 profissionais inscritos e foi estruturado em três etapas. Cada encontro aconteceu durante três dias consecutivos, com carga horária diária de oito horas.
A primeira fase, ocorrida em fevereiro, concentrou-se nas referências teóricas e na formulação de um projeto de pesquisa, buscando apontar as inquietações sobre o processo de trabalho. Reunidos em grupos de três ou quatro componentes e utilizando a‘tempestade de idéias’ – método também conhecido como ‘brains-torming’, no qual, a partir de estímulos,as idéias são expostas livremente,anotadas e organizadas –, os participantes chegaram a 13 questionamentos. Destacaram-se a percepção sobre o currículo integrado, o processo de avaliação na ETIS, o impacto dos cursos de técnico de enfermagem e de auxiliar de consultório dentário na prática profissional e pessoal dos estudantes, além da identificação do perfil do aluno no curso de auxiliar de enfermagem. Na segunda fase, no mês de abril, os participantes reelaboraram, apresentaram e avaliaram projetos de pesquisa a partir dos temas discutidos na primeira parte do curso. Já na terceira, em junho, uma banca formada pelos próprios participantes analisou os estudos concluídos.
Dos inscritos inicialmente,apenas 15 participantes concluíram todas as etapas. “Alguns professores tiveram dificuldades em desenvolveras próprias idéias. Além disso, como parte deles estava temporariamente na Escola por causa do Profae, não puderam participar dos três momentos,o que fez muitos se sentirem um pouco desvinculados”, acredita Márcia. Já para a diretora pedagógica da ETIS,Maria Regina Araújo, as desistências foram motivadas possivelmente pela falta de disponibilidade de tempo –já que o curso ocorreu no horário regular de aulas –, pelo desconhecimento das dificuldades naturais que surgem durante a elaboração de um projeto de pesquisa, pela frustração das expectativas iniciais, ou mesmo pelo incômodo em ver algumas idéias serem desconstruídas ou reagrupadas de outra maneira.
O resultado do curso foi a identificação de cinco grandes áreas temáticas para pesquisa na Escola: ‘Questionamentos sobre o Currículo Integrado’, ‘Processo de ensino e aprendizagem (Avaliação)’, Percepção do aluno sobre os cursos realizados’, ‘Identificação da demanda por habilitação profissional’ e ‘Saúde do trabalhador’.Dessas áreas, foram desenvolvidas três linhas principais de pesquisa. A primeira refere-se à metodologia de ensino (aplicação do currículo integrado); a segunda diz respeito à demanda de habilitação e especialização dos profissionais da rede estadual de saúde; e a terceira é relativa à Saúde dos Trabalhadores da ETIS, tema elaborado pela professora Neide Maria dos Santos, da coordenação de enfermagem. Neide aplicou questionários, selecionando um profissional de cada setor da Escola, para saber das condições de trabalho e do que poderia ser melhorado na estrutura física da ETIS.
Os projetos passaram pela fase de aplicação, através de entrevistas e questionários e, no último dia 30 de setembro, os primeiros resultados foram entregues à coordenadora. Para a implantação da coordenação de pesquisa, restam apenas o aval da Subsecretaria Adjunta de Recursos Humanos da Secretaria Estadual de Saúde e a aprovação do financiamento solicitado à Faperj.
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