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30/09/2014 Versão para impressãoEnviar por email

‘A análise do cenário epidemiológico é mais importante do que nunca’

O secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, fala sobre estratégias e ferramentas para o aperfeiçoamento da vigilância em saúde no país no segundo dia do 9º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, explicando que inovação não se reduz às novas tecnologias.

A velocidade atual das transformações dos problemas e agravos de saúde e a exigência de constante adaptação e integração das ferramentas e tecnologias de análise epidemiológica estiveram no cerne da conferência proferida pelo secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, no segundo dia (8/9) do 9º Congresso Brasileiro de Epidemiologia (Epivix), realizado em Vitória (ES). Ele iniciou explicando que “inovação” não se reduz às novas tecnologias, mas, sim, à incorporação de estratégias — sejam elas novas ou antigas, aplicadas em diferentes cenários e perspectivas. Isso porque, historicamente, os programas de prevenção e controle de doenças tendem a ser conservadores, repetindo o que já fazem, sem uma necessária adaptação aos cenários dinâmicos que têm sido predominantes de dez anos para cá. "O grande desafio é fazer com que tenhamos um processo de incorporação mais rápido", orientou.     

Usando exemplos variados de doenças — dengue, influenza, hanseníase, tuberculose, HIV/aids, malária, dentre outros —, Barbosa apresentou resultados obtidos a partir de inovações nos instrumentos de investigação e defendeu a centralidade da disciplina para o monitoramento e avaliação de políticas públicas. "A análise do cenário epidemiológico é mais importante do que nunca", frisou. Um bom exemplo, citou, é a dengue. “Enquanto a vacina não vem, devemos utilizar com mais intensidade o LIRAa”, defendeu, referindo-se ao Levantamento Rápido por Índice de Infestação de Aedes aegypti, criado em 2000.

Para Barbosa, a vigilância de casos da doença no Brasil é inapropriada. “Quando a curva [de casos de pessoas doentes] começa a subir, normalmente não há mais nada a ser feito para impedir o surto além de esperar que as temperaturas mudem”, observou. Com o LIRAa, alertou, é possível identificar não apenas a média de infestação de mosquitos, bem como o provável epicentro e os depósitos predominantes de larvas do mosquito, permitindo agir preventivamente a partir da informação. “Hoje, aproximadamente dois mil municípios utilizam a ferramenta, mas poucos a usam visando uma intervenção precoce”, disse, reforçando que os órgãos municipais poderiam agir já nos meses de outubro e novembro, antes do pico de transmissão, mediante intervenções mais focalizadas e precisas.

 

Eficácia e eficiência

Ainda em relação à dengue, Barbosa apresentou novas ferramentas que ajudam a complementar informações, assegurando uma vigilância mais completa. É o caso do monitoramento de redes sociais como o Twitter. O Ministério da Saúde desenvolveu um programa capaz de detectar tweets que mencionam a dengue, inclusive descartando aqueles com sentido de humor. A ferramenta é utilizada em cidades com mais de 200 mil habitantes e busca monitorar a experiência pessoal com a doença. De acordo com o secretário, em Belo Horizonte — considerado município-modelo em vigilância em saúde —, os agentes conseguiram detectar com até duas semanas de antecipação o aumento da incidência de casos em relação a notificações oficiais registradas nos serviços de saúde.

Barbosa lembrou, ainda, a importância de estudos preditores de casos graves de dengue que fundamentaram a mudança no protocolo clínico da doença, em 2011. A partir da identificação de sintomas como dor abdominal e vômitos foi possível diagnosticar mais casos graves da doença, o que implicou a diminuição da mortalidade, mesmo com a introdução de um novo sorotipo (4).

Em relação à tuberculose e à hanseníase — doenças que se concentram em bolsões de pobreza, seja no campo ou na cidade, ou em situações e contextos específicos, como o prisional —, Barbosa citou iniciativas que considera fundamentais para a redução das taxas de contaminação e a ampliação do tratamento. No caso da tuberculose, exemplificou, o Brasil é um dos países-piloto que experimentam o teste rápido de 90 minutos à prova de falso negativo. A ferramenta é fundamental para que a busca ativa funcione, já que testes mais demorados exigem um segundo ou até terceiro retorno ao médico, implicando abandono antes mesmo do tratamento começar. "Nas cidades-piloto — Rio de Janeiro e Manaus —, houve um aumento de 40% nos casos diagnosticados. E no final deste ano, os 90 municípios com maior carga de tuberculose terão a tecnologia implantada. Basicamente, 70% dos casos do país serão diagnosticados assim", antecipou.

No caso da hanseníase, o Ministério da Saúde foi até as escolas. Em 2013, a partir da adesão à proposta das secretarias municipais de Educação dos 852 municípios com pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), foi realizada uma busca ativa em 21.745 instituições de ensino, nas quais foram identificados 291 casos de hanseníase em menores de 15 anos — 10% de todos os casos esperados no ano. "Pela primeira vez, se usou em maior escala o tratamento profilático [Albendazol] em 2,9 milhões de pessoas, entre crianças, jovens e integrantes dessas famílias", disse, frisando que é uma estratégia para facilitar o acesso ao tratamento.

 

Emergências e grandes eventos

Emergências de saúde pública e grandes eventos internacionais formam um par de fenômenos com o qual o Brasil teve que lidar recentemente, se preparando e aprendendo lições. Nesse contexto, Barbosa citou a pandemia de Gripe A H1N1, que surgiu em 2009. Segundo o secretário, a lição aprendida com o caso foi a necessidade de flexibilizar os protocolos de manejo que vinham de fora. "O que chegou [ao país] foi um vírus indetectável, já que a maioria dos casos era leve. Um vírus, porém, que se transmitia com muita velocidade”, informou, acrescentando que o estabelecimento das cadeias de contatos para cada um dos casos se demonstrou totalmente ineficaz, visto que, em pouco tempo, aproximadamente 5% da população já tinham tido contato com o vírus. “Isso nos levou ao desenvolvimento do Plano Nacional de Resposta às Emergências de Saúde Pública, que pode ser utilizado em qualquer emergência de saúde pública", lembrou.

Já os grandes eventos — Copa das Confederações e Jornada Mundial da Juventude, em 2013, e Copa do Mundo, neste ano — levaram à necessidade de elaboração de planos de resposta que possibilitassem a organização de espaços de comando e coordenação de ações, evitando os 15 dias desde o início da crise até a organização da resposta ao vírus.

 

Por Maíra Mathias, da Secretaria de Comunicação da RET-SUS

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