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29/06/2017 Versão para impressãoEnviar por email

A formação dos trabalhadores do SUS em foco

A ESP-MG e a RedEscola promovem o Seminário Regional de Formação em Saúde Pública, com destaque para o aniversário de 71 anos da ESP-MG e o lançamento da Mostra Saúde É Meu Lugar. 

Discutir os desafios da formação dos trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS) e o papel das escolas de Saúde Pública e dos Centros Formadores de Saúde junto a gestores, trabalhadores, usuários e instituições de ensino. Este foi o objetivo central do Seminário Regional de Formação em Saúde Pública, realizado pela Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (ESP-MG) e a Rede Brasileira de Escolas de Saúde Pública (RedEscola), sediada na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), no Rio de Janeiro, entre os dias 22 e 23 de junho, em Belo Horizonte. O evento, que marcou o início das comemorações dos 71 anos da ESP-MG, contou com a presença de cerca de 150 pessoas, entre alunos da Especialização em Saúde Pública da ESP-MG, representantes das 28 regionais de Saúde de Minas Gerais, trabalhadores das Escolas de Saúde Pública e dos Centros Formadores do Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo e docentes das universidades federais de Minas Gerais, que participaram ainda do descerramento da placa comemorativa do aniversário (1946-2017) e da apresentação da foto oficial da ex-diretora da escola mineira, professora Roseni Sena, falecida em 2016. “Desejo que todos aqui presentes superem as expectativas da atividade e saiam com mais conhecimento, disposição, força e persistência para transformar a educação no campo da saúde pública”, ressaltou o atual diretor-geral da ESP-MG, Edvalth Rodrigues Pereira.

Trabalhadora da Ensp, Tatiana Wargas relembrou o processo de construção do seminário regional, que nasceu da ideia de mobilizar as escolas para uma discussão conjunta e democrática. “Não pensamos um seminário teórico, mas sim um momento de prática entre os que atuam diariamente no SUS, já que as escolas têm um papel fundamental na construção da saúde. A gente acredita na mobilização horizontal, em que possamos fazer pares no cotidiano da escola e no processo formativo permanente”, revelou. Na avaliação da diretora da Escola Técnica e Formação Profissional de Saúde Profª Ângela Maria Campos da Silva (ETSUS Vitória), Sheila Cristina de Souza, discutir a relação entre educação e saúde é uma luta: “Estamos em um momento que precisamos unir forças para que o SUS não morra. Precisamos gerar conhecimento e informação em um país com tanta desigualdade”. A coordenadora da Secretaria Executiva da RedEscola, Rosa Souza, destacou os 71 anos de história da ESP-MG, marcado pelo forte comprometimento de seus trabalhadores e pela parceria sinérgica com a Ensp. “Essas parcerias fortalecem as instituições e o próprio SUS. Essas ações têm se mostrado muito potentes, porque percebemos que podemos fazer juntos o que não poderíamos fazer sozinhos. Isso é trabalhar em rede”, avaliou Rosa.

O Seminário Regional sobre a Formação em Saúde Pública foi marcado, ainda, pelo lançamento oficial da Mostra Saúde É Meu Lugar, que coleta, reúne e divulga experiências dos profissionais da saúde com atuação em todo território nacional. O trabalho, fruto da parceria entre a RedEscola, a Ensp e a Secretaria de Atenção à Saúde (SAS) do Ministério da Saúde, traz histórias que podem ser gravadas em áudio, vídeo ou em forma de texto, enviadas por e-mail, pelo aplicativo de mensagens instantâneas (whatsapp) ou pelo próprio site. Em seguida, elas são publicadas no site e nas mídias sociais da mostra (www.saudeemeulugar.com). Algumas histórias, já apresentadas por seus narradores durante o evento — como foi o caso de José Fábio Souza, agente de combate a endemias do Ceará, que encontrou uma forma de chamar a atenção da comunidade para o enfrentamento ao Aedes aegypti, com o personagem PalhaSUS Horizontino — serão exibidas nas edições seguintes que percorrerá o país.  “Essas histórias servem para estar ali e irem ao mundo. Queremos ser mediadores de experiências que acontecem nos territórios para outras pessoas que precisam ouvir e serem inspiradas por elas”, realçou o coordenador da atividade e integrante da RedEscola, Caco Xavier.

        

Fortalecimento das redes

Formação em Saúde Pública: constituição de redes deu título à primeira mesa do evento, que contou com a mediação de Cristina Ruas, representando a Universidade Federal Fluminense (UFF) e as Escolas Técnicas do SUS (ETSUS) que integram a RedEscola, bem como a Rede de Escolas Técnicas do SUS (RET-SUS). Cristina lembrou a necessidade de unir redes de ensino técnico e superior. “Redes são feitas de gente que trabalha com educação, pessoas que caminham juntas. Ambas têm grandes interseções, mas pouco espaço de troca. Foi com essa intenção que buscamos esse debate”, observou.

No formato “sala de visitas”, a diretora da Escola Técnica de Saúde de Brasília (Etesb), Ena Galvão, que representa a Região Centro-Oeste na Comissão Geral de Coordenação da RET-SUS, discorreu sobre as divergências e as convergências das escolas de Saúde Pública e as ETSUS. Segundo ela, enquanto a ESP trabalha com instituições de ensino superior, a ETSUS tem como foco a educação de nível médio e fundamental. “A estrutura, o funcionamento e o desenvolvimento são completamente diferentes. Mas, apesar disso, ambas são importantes para o SUS. A ESP cuida mais da pós-graduação e a ETSUS, mais do ensino técnico”, comparou, questionando criticamente o fato de muitas ETSUS estarem submetidas às escolas de Saúde Pública.

As redes, para Ena, são geralmente compostas de sujeitos coletivos que atuam em grupos, sejam elas entidades civis ou associações, que se aproximam para enfrentar os desafios que se apresentam. “O vocábulo ‘rede’ nos remete à ideia de algo entrelaçado, feito para dar firmeza na tarefa de despertar algo. A RedEscola e a RET-SUS podem trabalhar conjuntamente, norteando políticas públicas de formação em saúde e evidenciando cenários e contextos que subsidiem a construção dessas políticas”, orientou.

Andrey Mozzer, diretor do Núcleo de Educação e Formação em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde do Espírito Santo (Nuefs), integrante da RET-SUS, contou que a escola formou em torno de 17 mil trabalhadores no estado, sugerindo a criação de uma Escola de Saúde Pública do Espírito Santo. Segundo ele, alguns pilares sustentam essa escola: “O resgate das pessoas que ao longo desses 30 anos do Núcleo sabem fazer saúde no SUS”. Ele defende, também, a criação de um núcleo de educação permanente em saúde dentro das 29 unidades da SES/ES. “Isso implica fazer com que o trabalhador vire cidadão e comece a olhar criticamente nossas práticas e, assim, melhorar os nossos processos de trabalho”, justificou.

Para Maria Auxiliadora Córdova Christófaro, professora adjunta aposentada da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), há uma nova forma de pensar uma rede que dê conta de estabelecer a interseção entre os mundos do trabalho e da educação, originalmente separados na sociedade. “Nas redes, é preciso desmitificar a hierarquização do conhecimento por grau de escolaridade e reduzir o conhecimento ao nível da escola”, orientou Maria Auxiliadora, que também apontou a necessidade de discutir a política de educação em saúde para não continuar a categorizar o trabalhador no mundo do trabalho em saúde, onde o nível superior está diretamente ligado ao ensino feito em uma escola superior e o nível médio não. 

Segundo Antônio Carlos Machado, do Centro Formador de Pessoal para a Saúde de São Paulo (Cefor-SP), há uma proposta em discussão de transformar o Cefor em universidade coperativa. “Isso significa que a gente vai ter os institutos de capacitação e os cursos de especialização, chegando até o mestrado”, explicou. Machado acrescentou que a ideia é aproximar as formações de nível médio e superior de forma significativa.

Encerrando o debate, a professora e pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), no Rio de Janeiro, Marise Ramos, falou sobre a visibilidade dos trabalhadores técnicos, mais visíveis aos usuários, porém menos visíveis às políticas públicas. Ela revelou que coordenou recentemente uma pesquisa sobre os saberes profissionais dos técnicos de nível médio das equipes em saúde da família, que reuniu 15 pesquisadores da EPSJV e 15 das escolas técnicas de saúde ou escolas de saúde pública. “Acompanhamos trabalhadores técnicos de 20 equipes de saúde. Tratou-se de uma rede de produção de conhecimento”, definiu.

Por Julia Neves, da Secretaria de Comunicação da RET-SUS

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