De onde surgiram e quais rumos devem seguir as manifestações que tomaram as ruas de diversas capitais do país nas últimas semanas? Essas foram algumas das indagações que serviram de fio condutor da mesa-redonda Eco das manifestações: que caminhos estamos trilhando?, promovida pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e pelo Grêmio Politécnico, no dia 9 de julho.
De onde surgiram e quais rumos devem seguir as manifestações que tomaram as ruas de diversas capitais do país nas últimas semanas? Essas foram algumas das indagações que serviram de fio condutor da mesa-redonda Eco das manifestações: que caminhos estamos trilhando?, promovida pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e pelo Grêmio Politécnico, no dia 9 de julho. Para falar sobre o tema, foram convidados o professor da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente da Associação de Docentes da mesma universidade, Mauro Iasi, o doutorando do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur) da UFRJ, Guilherme Marques, e o professor-pesquisador da EPSJV Geandro Pinheiro.
Mauro Iasi foi o primeiro a falar e questionou a leitura que vem sendo feita por parte da mídia e do governo, que expressaram surpresa diante da rapidez com que as manifestações se difundiram pelo país e do tamanho que o movimento adquiriu. “Chamou a atenção a perplexidade de alguns políticos e jornalistas tentando acompanhar as manifestações, mas isso só foi surpreendente para quem acreditava no discurso de que tudo ia bem no Brasil. Na verdade, quem acompanhava os movimentos sociais sabia que nem tudo ia bem, germinavam por baixo desse verniz ideológico diversas demandas que acabaram ‘explodindo’ a partir da disputa sobre o preço da passagem de ônibus”, apontou. Ele lembrou que a historia recente do país está repleta de movimentos reivindicatórios, alguns com bandeiras históricas, como os movimentos pela reforma agrária, e outros com bandeiras que ganharam importância nos últimos anos, como os que denunciam as remoções de populações pobres em decorrência das obras da Copa do Mundo. “Mas por que essas manifestações não provocaram a eclosão que a luta pontual sobre o preço dos transportes provocou?”, perguntou Iasi, explicando em seguida: “As explosões sociais funcionam em momentos de fusão, em que diferentes reivindicações populares encontram num acontecimento sintético a maneira pela qual se fundem e explodem. Esse momento foi a luta contra o aumento da passagem, que acabou dando o caráter multifacetado dessas manifestações, que ao mesmo tempo em que protestam contra os gastos da Copa, pedem saúde, educação, transporte, etc., fruto das contradições acumuladas sob o discurso ideológico”, afirmou.
Para Guilherme Marques, sociólogo e doutorando do Ippur/UFRJ, a aproximação da Copa do Mundo favoreceu a eclosão de manifestações de massa ao trazer à tona contradições que estavam latentes. “Há muito tempo se fala que em função da dívida publica não é possível melhorias na saúde, na educação, investimentos no transporte. Só que tem dinheiro para estádio que depois vai ser repassado para empresários. Essa contradição é fácil de entender. Isso é um tapa na cara da população”, afirmou Guilherme, que chamou atenção para a presença, nas manifestações do Rio de Janeiro, de moradores de favelas que receberam unidades de polícia pacificadora (UPP). “As favelas que mais se mobilizaram foram as que tinham UPPs. Por um lado, a existência de UPPs favorece mobilizações. Por outro, isso indica que toda aquela felicidade propagandeada não parece ser tão real”, disse.
Já Geandro Pinheiro, professor-pesquisador da EPSJV, ressaltou a importância da participação dos jovens nas manifestações, lembrando a convocatória do Grito dos Excluídos deste ano: Juventude que ousa lutar, constrói o projeto popular. “Essa convocatória foi escrita em março, mas parece que foi escrita às vésperas das manifestações. A questão aqui é que ninguém estava dormindo, queríamos gente na rua, tivemos e continuamos tendo, agora precisamos disputar o sentido disso”, afirmou, criticando a leitura conservadora que entende que a resposta às reivindicações populares passa apenas pela reforma do sistema político. Ele também fez críticas ao governo, que segundo ele foi conivente com a violência policial durante os atos. Para ele, a ação da polícia foi um exemplo de criminalização dos movimentos sociais e da pobreza, que ficou evidente pela maneira como a polícia reprimiu manifestações no centro do Rio de Janeiro e na periferia.
Matéria produzida com informações do site da EPSJV/Fiocruz. Leia a cobertura completa na página da escola
Por Jessica Santos, da Secretaria de Comunicação da RET-SUS
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