noticias

23/10/2014 Versão para impressãoEnviar por email

Movimentos sociais são protagonistas do debate sobre saúde e ambiente

Em sua segunda edição, o Simpósio Brasileiro de Saúde e Ambiente (Sibsa), promovido de 19 a 23 de outubro, em Belo Horizonte (MG), apostou na aproximação entre academia e movimentos sociais, abrindo caminhos para a definição de uma relação sujeito-sujeito sobre o contexto socioambiental.

Em sua segunda edição, o Simpósio Brasileiro de Saúde e Ambiente (Sibsa), promovido de 19 a 23 de outubro, em Belo Horizonte (MG), pelo Grupo Temático Saúde e Ambiente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (GTSA/Abrasco), apostou na aproximação entre academia e movimentos sociais, dando o mesmo protagonismo aos dois segmentos. A iniciativa abriu caminhos para a definição de uma relação sujeito-sujeito, mesclando trabalhos científicos e relatos de quem tem um saber do modo de vida, sobre o contexto socioambiental. “O Sibsa é fruto da construção do conhecimento que flui dentro dos movimentos sociais e pode tornar-se um pensamento coletivo. Fomos além de nossas expectativas ao incluir os movimentos sociais como partícipes da comissão científica e organizadora do simpósio”, observou o presidente do evento e diretor da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), Hermano Albuquerque de Castro. Ele defendeu, para além da inclusão dos movimentos sociais nos debates científicos, maior empenho na defesa da vida e da saúde. “O modelo de desenvolvimento capitalista precisa se discutido, pois interfere diretamente no processo de doenças, principalmente entre as populações vulneráveis”, acrescentou.
Sob o tema Desenvolvimento, conflitos territoriais e saúde: ciência e movimentos sociais para a justiça ambiental nas políticas públicas, o 2º Sibsa contou, na mesa de abertura, com a participação de Hermano Castro, Katia Souto, diretora de Apoio à Gestão Participativa da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde (Sgep/MS) — representando o ministro da Saúde, Arthur Chioro —, Paulo Gadelha, presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nelson Golveia, vice-presidente da Abrasco, Fernando Carneiro, presidente do GTSA, Lia Giraldo, presidente da comissão científica, Leilane André, presidente da comissão organizadora local, Mercedes Zuliani, da Organização Via Campesina, Joviano Mayer, do Movimento das Brigadas Populares, e Carlos Vaz, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

‘Para não calar’

“Aos que lutam pela reforma agrária, apresento o silêncio contra o apodrecimento da palavra. Para que não se chame de conflito a chacina, de paz a polícia, violência de segurança e manipulação de justiça, voltemos ao silêncio”, recitou Mercedes o poema de Clei de Souza, intitulado Para não calar, informando que os movimentos sociais sentem-se reconhecidos com a participação no simpósio. “Agradecemos ao povo que lutou para chegarmos até aqui, sob uma resistência que constrói projetos”, exaltou. Para Gadelha, os temas saúde e ambiente são quase simbióticos e não podem ser pensados de forma desconectada. “A produção do conhecimento não é um monopólio da academia. É algo vivo presente na luta e na prática das pessoas”, reconheceu.

‘Sem saúde, o mundo vai mal’

Histórico militante da Reforma Agrária e precursor da agroecologia no Brasil, o francês Jean Pierre Leroy proferiu a conferência de abertura do 2º Sibsa, sob o tema Direitos, justiça ambiental e políticas públicas, defendendo a retomada do sentido de simbiose das sociedades na contemporaneidade e explicando que a saúde é o termômetro desse processo. “Se a saúde não vai bem, o mundo não vai bem”, enfatizou.
Segundo Leroy, os direitos são arbitrários, principalmente, quando dizem respeito ao território. “O Congresso Nacional — que é dominado pelo agronegócio — quer dar a ele o direito e o dever de definir onde haverá povos indígenas. Mas os índios já existiam. É ainda mais arbitrário quando o governo federal atribui essa decisão aos estados ou quando liberam, por exemplo, a construção de hidrelétricas em territórios tradicionais, indo contra a Constituição Federal”, criticou.
Em suas palavras, justiça ambiental implica a luta travada para que ninguém entre na condição de atingido. “É um grito dos que não aceitam ser destruídos, eliminados, silenciados pela injustiça e pelo processo de desenvolvimento capitalista”, explicou, acrescentou que justiça ambiental é uma afirmação de algo que interpela toda a sociedade, que diz que não se pode mais pensar o futuro da sociedade brasileira sem que o meio ambiente faça parte da vida. “Há 20 anos os ambientalistas já diziam que faltaria água e outros bens naturais. Hoje, é o grito do povo que ecoa o problema”, ressaltou.

Apresentações culturais

Expressões culturais tradicionais — do maracatu à música de viola —, palhaçaria e danças contemporâneas — além do forró — fizeram-se presentes nos três dias do simpósio. O evento contou também com três exposições de fotografias, reunindo os trabalhos de André Mantelli, Mercedes Zuliani, Tuira Tule, Ivanessa Brito e dos fotógrafos do Projeto Vidas Paralelas do Campo. No Espaço Abraco Divulga, o documentário Toxic Amazon, uma crônica de mortes anunciadas, de Felipe Milanez, trouxe para o cenário o tema do desmatamento da Amazônia, evidenciando o abuso de poder em algumas regiões do país, como em Marabá (PA), e o silêncio que impera nas regiões mais abastadas da Amazônia, onde ativistas tentam defender a ideia de preservação da floresta. O documentário conta a história do assassinato do casal de ambientalistas José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, em Nova Ipixuna, no Pará, ocorrido no dia 24 de maio de 2011.

 

Por Ana Paula Evangelista, repórter da Secretaria de Comunicação da RET-SUS
 

Comentar