Qual o sentido do SUS? A pergunta norteou o debate que fez parte do Seminário Regional de Formação em Saúde Pública, realizado pela ESP-MG e a RedEscola, entre os dias 22 e 23 de junho, em Belo Horizonte.
Em Sentidos e significados sobre o SUS, dando título à roda de conversa do Seminário Regional de Formação em Saúde Pública, a professora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), Camila Borges, relatou a experiência de uma turma de residência em saúde da família que havia chegado há cerca de duas semanas em um território e se deparou com o caso de uma mãe — usuária de crack — que saiu de casa e deixou o pai com uma filha e um enteado. O pai, recém-empregado, deixava a filha com a avó, que, por sua vez, não quis cuidar do enteado, por entender que não era seu neto. O menino, então, teve que ir para um abrigo. “Nesse contexto, a gente desmonta uma família e a ideia de território, porque esse menino ficou em um abrigo que não era coberto por essa equipe. A gente perde a ideia de que saúde não é só ausência de doença, porque alguém perdeu o direito à educação também”, observou. Em sua avaliação, essas pessoas são vítimas de um “modelo campanhista”, pois não há interseção com os serviços de assistência social para a manutenção dessas famílias, que assim ficam descobertas pela Saúde. O evento foi realizado pela Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (ESP-MG) e a Rede Brasileira de Escolas de Saúde Pública (RedEscola), sediada na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), no Rio de Janeiro, entre os dias 22 e 23 de junho, em Belo Horizonte.
Ludmila Bandeira, representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), destacou a relação dos militantes com o SUS e sua definição de saúde: “A saúde para o MST é a capacidade de lutar contra tudo que nos oprime. Nós não falamos somente de doença, mas como a gente consegue cotidianamente cuidar do outro”. Por sua vez, o professor e psicólogo da Maternidade Odete Valadares, Francisco Viana, fez críticas ao sistema de ouvidoria do SUS, por ouvir apenas aqueles que conseguem atendimento. “Como o usuário vê o nosso trabalho? Se for só pelos que foram atendidos, nós somos bem avaliados. Mas, e aquela mãe que teve o seu filho raptado porque ela bebe ou mora debaixo do viaduto? Essa mãe não deve nos avaliar bem”, exemplificou.
De acordo com Bárbara Furtado, da Secretaria Municipal de Saúde de Betim (MG), é preciso estar consciente de que a questão da saúde é afetada não só por questões da própria área, mas também pelas condições de trabalho, dos direitos previdenciários e das políticas em curso. “Muitas vezes perdemos de vista coisas que afetam nossos usuários e nós mesmos. Devemos defender um modelo amplo de saúde. A saúde está dentro do rol dos direitos humanos e é isso que temos que pensar”, defendeu.
Por Julia Neves, da Secretaria de Comunicação da RET-SUS
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