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30/04/2015 Versão para impressãoEnviar por email

Pioneirismo na formação técnica em Agentes Comunitários Indígenas de Saúde

Formação teve como foco o conceito ampliado de saúde, utilizando estratégias pedagógicas adaptadas à realidade local que valorizavam os conhecimentos que as populações indígenas já tinham.

Em uma ação inédita, promovida pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e Instituto de Pesquisa Leônidas e Maria Deane — unidade técnico-científica da Fiocruz na Amazônia —, foram formados 139 técnicos em agentes comunitários indígenas de saúde, no município de São Gabriel da Cachoeira (AM), nos dias 10 e 11 de abril. Segundo a professora e pesquisadora Ana Lúcia Pontes, da EPSJV, o curso foi realizado em parceria com as secretarias Municipal de Educação de São Gabriel da Cachoeira e Estadual de Educação do Amazonas e a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn). “Estou muito feliz e orgulhosa de ter terminado o curso”, disse Ana Lúcia, que fez parte da equipe de coordenação do projeto junto com Luiza Garnelo e Sully Sampaio, da Fiocruz Amazonas.

Ana Lúcia contou que a formação teve como foco o conceito ampliado de saúde, utilizando estratégias pedagógicas adaptadas à realidade local que valorizavam os conhecimentos que as populações indígenas já tinham, além de resgatar suas tradições.

 

Eixos estruturantes

O curso foi estruturado em cinco eixos — Cultura, Território, Cuidado, Política e Informação, Comunicação e Planejamento em Saúde —, com duração de seis anos. Iniciada em 2009 e dividida em três etapas formativas — com um total de 3.240 horas de aulas, incluindo a elevação da escolaridade —, a formação contou com aulas teóricas e prática profissional. Ainda segundo Ana Lúcia, os alunos foram divididos em cinco turmas, com aulas em cinco polos formativos — Rio Negro acima, Baixo Rio Içana e Xié (Polo I), Alto Waupés, Iauaretê e Rio Papuri (Polo II), Baixo Rio Waupés e Rio Tiquié (Polo III), Médio e Alto Rio Içana, Aiari e Cuiari (Polo IV) e Rio Negro abaixo, Curicuriari e Santa Isabel (Polo V).

A pesquisadora ressaltou que, antes do início do curso, o trabalho dos agentes indígenas resumia-se, basicamente, na assistência e remoção dos doentes. “Nossa formação teve como base a Atenção Primária e a Educação em Saúde. Com o curso, acho que construímos uma boa base para estruturar o trabalho do agente. Terminamos a formação com uma discussão política sobre o papel do agente, para que eles tenham condições de lutar pelo fortalecimento da categoria profissional”, observou. Os alunos foram orientados quanto ao diagnóstico do seu território, à análise das condições de saúde, à identificação das situações de risco e ao planejamento e execução de um plano de ação em saúde no território. “Os alunos trabalharam a questão da alimentação. Hoje, muitos têm problemas de obesidade e desnutrição, por causa do aumento do consumo da comida industrializada. Nas aulas, tentamos fazer com que eles passassem a valorizar a sua alimentação”, exemplificou.

A pesquisadora lembrou, ainda, que a formação foi fruto de demanda das comunidades indígenas, do Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto Rio Negro e da Foirn. Todos os alunos já trabalhavam como agentes comunitários indígenas de saúde do Distrito Sanitários Especial do Alto Rio Negro, onde vivem cerca de cinco mil índios, abarcando os municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel e Barcelos. A equipe de coordenação irá, em seguida, sistematizar a experiência para que sirva de base para outras formações. Todo o curso foi acompanhado por uma equipe de antropólogos, que fez a etnografia das aulas. 

 

Por Flavia Lima, repórter da Secretaria de Comunicação da RET-SUS

Foto de Luiz Maurício Baldacci, da Coordenação Geral do Ensino Técnico de Nível Médio em Saúde da EPSJV.

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