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aluno em foco
Naturopatia na promoção da saúde

Sob o ideário de um médico de família, ex-aluna da EFTS dedica-se ao cuidado de uma horta medicinal, no quintal da unidade de saúde.

Flavia Lima

Quem nunca tomou chá de erva-cidreira para espantar a insônia? Ou de camomila para ajudar na digestão? Quem já usou chá de boldo como remédio caseiro para o mal-estar do fígado? Foi pensando em proporcionar à comunidade uma vida saudável e sustentável que o médico Áureo Augusto Caribé de Azevedo, da Unidade de Saúde da Família (USF) de Caeté-Açu, zona rural do município de Palmeiras, na Bahia, propôs a criação de uma horta medicinal, baseada nos fitoterápicos — medicamentos obtidos a partir de plantas medicinais. Azevedo revela que seu interesse por essa proposta surgiu quando teve problemas sérios de saúde, optando, assim, por seguir uma linha terapêutica chamada naturopatia — ou medicina natural. “A partir daí, decidi que iria ajudar a comunidade”, contou.

O trabalho de cuidar da horta medicinal, sob a orientação do médico de família, coube à agente comunitária de saúde e trabalhadora da USF Marlene Soares de Almeida, de 32 anos. “Nascemos numa região onde todos têm a cultura de fazer um chá ou tratar com alguma erva. É gratificante ajudar uma pessoa que está passando mal e oferecer, por exemplo, um chá de rosa branca com alecrim”, citou a trabalhadora, referindo-se à bebida indicada em casos de inflamações do útero e rins, devido às ações antibacterianas e antidiarreicas da rosa branca e às propriedades digestiva e anti-inflamatória do alecrim.

Agente comunitária de saúde há nove anos, Marlene é egressa da Escola de Formação Técnica em Saúde Professor Jorge Novis (EFTS), na Bahia. Ela realizou o curso de forma descentralizada na própria USF. “Nossos cursos acontecem de forma descentralizada, não há necessidade de ser na escola. Oferecemos cursos para 23 mil agentes comunitários e todos eles fizeram os cursos em uma unidade de saúde da família”, esclarece a diretora da EFTS, Maria José Camarão. “Foi a decisão mais acertada que tomei na vida. Ser aprovada no curso foi um presente para mim”, recordou Marlene, destacando que sempre achou a profissão de agente comunitário bastante interessante.

Na observação de Maria José, a escola possibilita a inclusão social de milhares de trabalhadores, que passam a ter estudo, diploma e carreira. “A EFTS vem referendar a prática na qual eles estão imersos. A partir da formação técnica, muitos deixam de ter simplesmente uma ocupação e passam a ser profissionais”, destacou.

Cuidado sempre presente

Marlene passou a trabalhar na unidade de saúde logo após a conclusão do curso.  Foi durante as reuniões semanais que acontecem na USF que o médico de família Azevedo propôs a criação de um horto de plantas medicinais, em um pequeno espaço no fundo da unidade de saúde. “O doutor Áureo fez projetos para cada um e eu fui designada a cuidar desse espaço. Fui com meu marido à comunidade de Campinha, onde já havia uma pessoa engajada nesse trabalho, e solicitamos informações e dicas de como começar a horta medicinal. Íamos lá semanalmente, para buscar plantas e mudas. Hoje, esse horto é motivo de orgulho”, revelou.

A seleção das plantas a serem cultivadas foi feita por todos os profissionais da USF, que optaram pelo guaco — indicado em caso de gripe, infecção na garganta, bronquite e alergias —, anador — também utilizada no tratamento de bronquites e gripes, além de aliviar azia e dores musculares —, bem-me-quer— conhecida como mal-me-quer, calêndula ou margarida-dourada, é expectorante e antiespasmódica, além de fortalecer o útero —, hortelã — para o tratamento da azia, má digestão, problemas do fígado e vesícula biliar, entre outros benefícios —, romã — indicada em casos de dores de garganta e problemas na gengiva, cólicas intestinais e diarreia —, melissa, camomila e erva cidreira — por combater a ansiedade, a insônia e a agitação, devido às propriedades calmantes —, boldo — contra problemas digestivos e do fígado —, além da rosa branca e do alecrim. “Temos de tudo na horta medicinal”, resumiu Marlene.

O processo de secagem, embalagem e distribuição das plantas é simples: as ervas são postas sobre uma tela de metal, presa sob o telhado da varanda do fundo do posto; depois de secas, são empacotadas, rotuladas e postas nas prateleiras da farmácia, para, em seguida, serem distribuídas para a população, conforme a orientação do profissional habilitado da equipe de Saúde da Família. “Sinto-me bastante satisfeita, pois é um trabalho que faço com amor e carinho”, contou a agente comunitária de saúde.

Na avaliação de Azevedo, o uso de plantas com fins terapêuticos é, entre as práticas integrativas e complementares do SUS, a de mais fácil aceitação, por se tratar de uma atividade onipresente em todas as civilizações e servir de base a numerosas medicações alopáticas.

Segundo ele, em qualquer área rural, o uso de plantas medicinais faz parte do cotidiano da comunidade. “Na medida em que usamos plantas medicinais, produzidas aqui, por pessoas da comunidade, e, ao passo que essa medicação é valorizada pelos médicos, conseguimos resgatar valores e costumes locais, reduzindo a medicação e o uso de drogas, tornando a vida da população muito mais saudável”, argumentou. Ele lembra que as ervas têm grande efetividade terapêutica quando bem utilizadas e, embora não completamente inócuas, têm menor possibilidade de efeitos colaterais do que as medicações alopáticas.

Para Maria José, a proposta ajuda não somente o usuário do SUS como também valoriza a ação do agente comunitário, integrando cada vez mais comunidade e unidade de saúde. “O trabalho desenvolvido na USF de Caeté-Açu, além de resgatar o conhecimento popular, contribui para a promoção da saúde e o bem-estar da comunidade e da equipe de trabalhadores”, concluiu.

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Alternativa de tratamento no SUS

Os benefícios das plantas medicinais e dos medicamentos fitoterápicos são reconhecidos em todo o mundo como elementos importantes na prevenção, promoção e recuperação da saúde, bem como pelo próprio Ministério da Saúde, devido às suas propriedades contra dores, inflamações, disfunções e outros incômodos e ao alívio sintomático de doenças de baixa gravidade.  O SUS já conta com 12 tipos de medicamentos fitoterápicos, entre eles a Aloe vera (Babosa) — para o tratamento de psoríase e queimaduras —, o Salix Alba (Salgueiro) — contra dores lombares — e a Rhamnus purshiana (Cáscara-sagrada) — para problemas de prisão de ventre, na bílis e no baço.

Produzidos a partir de plantas frescas ou secas e de seus derivados, que ganham diferentes formas farmacêuticas, como xaropes, soluções, comprimidos, pomadas, géis e cremes, esses tipos de medicamentos, financiados com recursos da União, estados e municípios, podem ser manipulados ou industrializados e devem ter registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ao todo, 13 estados — Acre, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Pará, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe, São Paulo e Tocantins — e o Distrito Federal — contam com a distribuição dos produtos, que devem ser utilizados, a exemplo da Unidade de Saúde da Família de Caeté-Açu, sob orientação médica.

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Comentários

Gostaria de saber o que faço para tratar uma doença de pele que tenho há alguns anos? Já usei vários cremes dermatológicos e continua a mesma coisa.

Iracilda,

Você escreveu para a Rede de Escolas Técnicas do SUS, cujo enfoque é a formação técnica em saúde e para o SUS. Somos uma Rede formada por 40 escolas técnica, que estão distribuídas pelo país. Nós apenas podemos te ajudar com informações sobre cursos na área da saúde e matérias sobre temas do interesse da Rede, a citar Saúde, Educação e Trabalho, que são rotineiramente publicadas neste site e na revista da RET-SUS. Se tiver interesse em nos conhecer, clique no link 'quem somos', localizado no menu principal do nosso site, à esquerda. Agradecemos o seu contato.

Att,

Secretaria de Comunicação da RET-SUS

 

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