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Excelência na formação técnica em radiologia

Escolas técnicas do SUS se destacam por formar novos profissionais para o serviço e promover a atualização daqueles que atuam em prol da prevenção e da promoção da saúde.

Flavia Lima e Ana Paula Evangelista
 

Estudo da visualização de ossos, órgãos ou estruturas por meio do uso de radiações (sonoras, eletromagnéticas ou corpusculares), gerando assim uma imagem. Trata-se da Radiologia, que por dispor de tecnologias imagiológicas avançadas, tais como ultrassonografia (US), tomografia computadorizada (TC), mamografia e ressonância magnética nuclear (RMN), ganhou visibilidade nas últimas décadas. Nesse contexto, destaca-se o papel do técnico, cuja profissão foi regulada pela Lei nº 7.394, em 29 de outubro de 1985, e regulamentada pelo Decreto nº 92.790/1986. O objetivo foi assegurar o exercício da profissão para aqueles que efetivamente atuavam na área e reconhecer as funções desse trabalhador quanto à programação, execução e avaliação de todas as técnicas radiológicas utilizadas no diagnóstico, na prevenção e na promoção da saúde.

Na esteira dessa proposta e imbuída pela missão de formar profissionais de nível médio para atuarem nos laboratórios, a Coordenação Geral de Ações Técnicas em Educação na Saúde do Departamento de Gestão da Educação na Saúde da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde (Deges/Sgtes/MS) produziu, em 2011, uma coletânea de material didático para o técnico em radiologia, em apoio à formação na área ofertada pela Rede de Escolas Técnicas do SUS.

Lançado no contexto do Programa de Formação de Profissionais de Nível Médio para a Saúde (Profaps) do Ministério da Saúde de forma inédita, junto com outras três áreas prioritárias (Vigilância em Saúde, Hemoterapia e Citopatologia), o material — organizado na forma de hipermídia, associando o conteúdo textual a imagens radiológicas, desenhos estáticos, vídeos e animações — busca promover e aprimorar a qualificação dos trabalhadores do SUS, além de orientar as escolas quanto à organização e ao planejamento de seus processos formativos. “A ideia foi produzir um material para dar suporte às escolas, dando-lhes liberdade de manusear os conteúdos conforme seus propósitos”, explica a professora Tânia Aparecida Correia Furquim, física médica do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e uma das autoras do material.

A hipermídia divide-se em Radiologia Convencional, Mamografia, Tomografia Computadorizada, Ressonância Magnética, Radiologia Odontológica, Densitometria Mineral Óssea, Medicina Nuclear, Radiologia Intervencionista, Radioterapia, Proteção Radiológica, Banco de Imagens e Biblioteca. “Houve uma divisão para o desenvolvimento do material: médica, computacional e física. Definimos, então, que esse formato poderia facilitar o aprendizado e alcançar os locais mais distantes do país de maneira fácil e barata, além de permitir acesso digital às escolas técnicas e aumentar a habilidade dos alunos quanto aos conteúdos digitais”, observa. De acordo com Tânia, todas as modalidades radiológicas foram contempladas, abordando a proteção tanto do trabalhador e do paciente quanto do meio ambiente. “A parte da física é completa e de linguagem simples, já que, hoje em dia, as escolas têm dificuldade de achar material nessa área para nível técnico”, revela.

Chefe da Unidade de Diagnóstico por Imagem do Hospital Universitário de Brasília e também uma das autoras do material didático, a médica radiologista Neysa Aparecida Tinoco Regattieri considera que o uso exclusivo de materiais textuais no processo de ensino-aprendizagem está sujeito a diversas limitações. “Por este motivo, esse projeto contemplou o desenvolvimento de ferramentas computacionais relacionadas a ambientes interativos, visando conferir maior confiabilidade e eficiência ao processo de formação de recursos humanos”, esclarece.

Esse trabalho encontrou justificativa na necessidade de formar novos quadros para uma área que está em franca expansão no mundo. “A maior quantidade de trabalhadores com radiação é na radiologia diagnóstica. Assim, há uma imensa necessidade de que essas pessoas sejam bem formadas, com princípios fortalecidos de ética e biossegurança, para que os malefícios da radiação não sejam maiores que os benefícios”, pondera Tânia.

Exercício da profissão

Qual a importância do técnico? De acordo com o livro Diretrizes e Orientações para a Formação do Técnico em Radiologia, publicado pelo Ministério da Saúde em 2011, esse profissional atua na área da saúde como integrante da equipe de Radiologia. O técnico desenvolve ações de apoio ao diagnóstico por imagem e à terapêutica radiológica na atenção básica, na média e alta complexidade, referenciadas nas necessidades de saúde individuais e coletivas e determinadas pelo processo saúde-doença.

O processo de formação desse profissional, realizado pelas escolas da RET-SUS, divide-se em três etapas. A primeira diz respeito ao contexto da ação do técnico nos serviços do SUS. Nessa etapa formativa, são focalizados o processo saúde-doença e seus determinantes, os aspectos epidemiológicos dos riscos e agravos à saúde, os princípios doutrinários e organizativos do SUS que fundamentam as políticas públicas de saúde e suas interfaces com outras políticas sociais, os conceitos de promoção da saúde e educação em saúde, bem como as práticas de educação em saúde dirigidas a indivíduos e grupos, o aprimoramento profissional e o processo ensino-aprendizagem. Discute-se, ainda, os processos de trabalho em saúde e em radiologia, suas características e interfaces, o trabalho em equipe e os aspectos legais, éticos e políticos da profissão.

Na etapa dois, destaca-se a ação do técnico em radiologia em procedimentos de diagnóstico por imagem nos serviços do SUS. Para tanto, são abordados os conhecimentos relativos à anatomia, fisiologia e patologias que permitem identificar padrões em imagens radiológicas, os princípios físicos em radiologia para a compreensão dos processos de formação das imagens, a partir de diversas tecnologias, os conceitos de interação da radiação com a matéria, seus efeitos, a proteção radiológica, os processos de elaboração e execução de protocolos de exames, os conceitos correlacionados à qualidade das imagens radiológicas nas diversas modalidades diagnósticas, os cuidados necessários aos usuários submetidos às diversas modalidades radiodiagnosticas e em procedimentos intervencionistas e a legislação específica em radiodiagnóstico.

A terceira etapa da formação diz respeito à ação do técnico em radiologia em procedimentos radioterapêuticos e à organização do seu processo de trabalho nos serviços de radiologia do SUS. Nessa fase, são abordados os princípios físicos para a compreensão dos processos de formação das imagens, aplicando os conceitos correlacionados às modalidades radioterapêuticas e de medicina nuclear, as técnicas e a instrumentação para testes de rotina de controle de qualidade, os processos de garantia e controle de qualidade e sua implementação no serviço de radiologia, a legislação específica em radioterapia e medicina nuclear, o conhecimento e a aplicação dos instrumentos gerenciais, com destaque para o planejamento estratégico situacional, a organização e o funcionamento da unidade de radiologia e a avaliação do processo de trabalho do técnico.

Para dar conta de todo esse conteúdo, a carga horária mínima do curso é de 1.200 horas, às quais deve ser acrescido o tempo para o estágio curricular, totalizando 1.800 horas. A formação, portanto, vem dar acesso a muitos trabalhadores que já atuam no SUS a conhecimentos e informações que lhes permitam o melhor desenvolvimento de suas funções e maior comprometimento com as políticas nacional e estadual de saúde e os princípios e diretrizes do sistema.

Experiências exitosas

O Centro Estadual de Educação Profissional em Saúde Monsenhor José Luiz Barbosa Cortez (ETSUS Piauí) buscou contemplar no curso Técnico em Radiologia a diversidade dos aspectos relacionados à prática profissional, considerando as especificidades das unidades de atendimento à saúde do estado, de modo a tornar cada vez mais organizado o cuidado à saúde. Afinal, a escola tinha o desafio de formar um total de 100 servidores sem formação técnica, atuando como práticos — ou operadores de raios x, como são chamados —, em uma rede pública com serviço de radiologia presente em 43 municípios.

O movimento pela formação desses trabalhadores foi iniciado em agosto de 2008, em uma reunião de integração técnica com representantes da Secretaria Estadual de Saúde (Sesapi) e a escola, que apresentou o projeto, as equipes técnica e pedagógica, a definição de suas respectivas funções e o planejamento dos trabalhos a serem desenvolvidos.

Em dezembro de 2008, a escola deu início a duas turmas do curso, formando 75 profissionais técnicos em julho de 2011. As aulas presenciais aconteceram na capital, sob a coordenação de Lívia de Almeida Soares e Rosângela Rodrigues Melo de Andrade, e os alunos recebiam ajuda de custo para o deslocamento e a hospedagem. A ETSUS Piauí foi a primeira escola da Rede a ofertar o técnico, o que lhe rendeu uma menção honrosa no site do Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia (Conter), em matéria publicada no dia 11 de julho de 2011, sob o título Escola do SUS forma primeira turma do curso técnico em radiologia.

A formação foi abordada pela Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE) em visita à Quebec, no Canadá, entre os anos 2006 e 2010. Um grupo de técnicos da escola visitou os colégios de Educação Profissional da província canadense, aprofundando os conhecimentos sobre os temas específicos da formação e a abordagem por competências nos currículos de formação profissional.  A atividade contribuiu para a promoção do curso técnico no Ceará. A primeira turma do Técnico em Radiologia promovido pela ESP-CE iniciou em 2011, com 20 alunos matriculados. Desse total, 17 concluíram o curso, formando-se em junho de 2014.

Os estágios aconteceram no Centro de Imagem do Hospital Geral de Fortaleza, contando com o apoio do coordenador da unidade e seus colaboradores, onde os alunos desenvolveram competências nos seguimentos de aparelhagem de raios-X convencional e telecomandado, mamografia, densitometria, tomografia computadorizada, ressonância magnética e raio-X odontológico panorâmico. A ESP-CE prevê realizar, ainda neste ano, duas turmas descentralizadas, nos municípios de Aracati e Quixeramobim. Atualmente, a escola está em processo de seleção de alunos.

Foco no serviço

A Escola Técnica em Saúde Maria Moreira da Rocha (ETSUS-AC) tem168 alunos atualmente em curso, divididos em seis turmas. Duas turmas são oferecidas concomitantemente ao ensino médio, duas simultâneas ao projeto de Educação de Jovens e Adultos (EJA) — com recursos do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) do Ministério da Educação — e duas turmas subsequentes. Todas tem previsão de conclusão entre este ano e 2016. Além disso, a escola tem uma turma exclusiva com profissionais do serviço em fase de finalização do estágio supervisionado. Essa turma conta com recursos do Profaps.

A escola do Acre comemora o fato de ter formado muitos profissionais aprovados em concursos públicos. Segundo o responsável técnico da formação na ETSUS Acre, Fabio Moraes, a radiologia é uma das subáreas da saúde em crescente ascensão no estado. Diversas modalidades como o de arco-cirúrgico, radioterapia, braquioterapia, ressonância magnética, medicina nuclear, densitometria óssea, raio-X digitalizado e raio-X digital, mamografia, hemodinâmica  e tomografia computadorizada já podem ser realizadas na capital e em alguns municípios do interior. “A evolução dos serviços básicos em radiologia em todo o estado caminha para esse novo tempo e a ETSUS Acre tem um papel importante nisso e colabora para um melhor atendimento à população”, constatou.

O curso Técnico em Radiologia, promovido pelo Centro Formador de Recursos Humanos da Paraíba (Cefor-RH-PB), procura suprir a necessidade na formação de profissionais técnicos na área comprometidos com a consolidação dos princípios e diretrizes norteadores do SUS e contribuir para o desempenho crítico desses profissionais, diante da diversificação de cenários de práticas educacionais. A escola já formou seis turmas no estado, sendo cinco delas no ano de 2009, totalizando 123 alunos. A última turma, com 30 alunos, concluiu a formação em 2012.

O curso está organizado em cinco módulos, em atenção às exigências da área, apresentando uma organização curricular flexível — que possibilita a aprendizagem de forma continua — e permitindo ao estudante acompanhar as mudanças de forma autônoma e crítica. O módulo introdutório está baseado no cenário político, social, cultural e na educação em saúde para a formação do técnico em radiologia. O módulo um destaca-se pela presença das unidades complementares de Português Instrumental, Informática e Metodologia do Estudo, que proporcionam ao aluno trabalhador uma ressignificação dos seus conhecimentos, habilidades e competência, e pelo contexto da ação do técnico em radiologia nos serviços do SUS.

Por sua vez, o modulo dois contextualiza a ação do profissional em procedimentos de diagnóstico por imagem nos serviços do SUS. Já o módulo três aborda a ação do técnico em radiologia nos procedimentos radioterapêuticos e a organização do seu processo de trabalho nos serviços de radiologia do SUS. Por fim, o módulo quatro compreende o estágio supervisionado. “Os técnicos em radiologia precisam ser capazes de desenvolver ações de apoio ao diagnóstico por imagem e a terapêutica radiológica na atenção básica”, explicou Aline Poggi, diretora pedagógica do Cefor-RH-PB

No fim de 2010, o Laboratório de Educação Profissional em Manutenção de Equipamentos em Saúde (Labman) apresentou à direção da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), no Rio de Janeiro, a proposta de implantar um curso de habilitação técnica na área de Radiologia. A partir disso, foi definido que o curso seria realizado no período noturno e desenvolvido sobre o modelo integrado e semestral — ou seja, o aluno cursaria disciplinas dos ensinos médio e técnico conjuntamente a cada semestre.

A primeira turma do Técnico em Radiologia da EPSJV foi iniciada em 2012, com 30 alunos, sob a coordenação de Sergio Ricardo de Oliveira e Alexandre Moreno Azevedo, do Labman. Diferente dos demais, esse curso é marcado por ser o primeiro de uma instituição federal no estado do Rio de Janeiro — e só não é considerado o primeiro da rede pública do estado, pois entre os anos 1970 e 1980 existiu o Curso Profissionalizante de Técnico em Raios-X, do antigo Instituto Estadual de Radiologia e Medicina Nuclear Manoel de Abreu, vinculada, na época, à Secretaria de Saúde do Estado da Guanabara. “No curso, a EPSJV tentou resgatar um pouco da filosofia aplicada no antigo instituto, onde os alunos eram preparados para o trabalho, antes mesmo de realizar seus estágios. É claro que com o avanço de novas técnicas e a apropriação de novas tecnologias algumas mudanças se fizeram necessária”, contou Sérgio de Oliveira.

Atualmente, o curso da EPSJV não apenas capacita os alunos para a atividade, como também apresenta a eles todo o universo de trabalho no campo da Radiologia, orientando e preparando o profissional para o mundo do trabalho. “Para isso, além das aulas expositivas e de um programa curricular que busca integrar e reforçar, a todo o momento, os conhecimentos dos alunos, contamos com visitas técnicas em instalações de Saúde, onde os alunos são submetidos a simulações de procedimentos”, enfatiza Sérgio. 

A escola conta, ainda, com um laboratório de imagem que tem dois equipamentos em funcionamento, um simulador e uma sala de processamento. Os professores são especialistas em cada uma das áreas de aplicação da Radiologia, passando por exames sofisticados como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética, exames específicos como a mamografia e a densitometria óssea e aplicações odontológicas e veterinárias, incluindo áreas como a Medicina Nuclear e a Radioterapia. Desde a inauguração do curso, 14 alunos finalizaram a longa etapa de 2.400 horas de aula, divididas entre a formação geral e a formação técnica. Em 2015, os alunos deverão cumprir o estágio obrigatório de 600 horas e apresentar o trabalho de conclusão de curso (TCC), exigido pela escola para a diplomação dos técnicos.

Em Tocantins, as experiências com a formação técnica em radiologia foram iniciadas em 2009 por meio da Escola Tocantinense do Sistema Único de Saúde (ETSUS-TO). A primeira turma foi formada em 2011 e mais três turmas em 2013, realizadas nos municípios de Palmas Gurupi e Araguaína, totalizando 129 alunos.

Por sua vez e frente ao desafio de superar o déficit de profissionais qualificados em Alagoas, a Escola Técnica de Saúde Professora Valéria Hora (Etsal)  se prepara para oferecer o curso ainda em 2015, dando ao contingente de trabalhadores do campo da radiologia o suporte científico necessário, com a implementação de práticas fundamentadas, organizadas e integradas e, consequentemente, mais qualificadas. “Este grupo não tem formação específica e vem sendo preparado para o trabalho por meio de processos pontuais de capacitação. Sabe-se que muitos deles têm sido tratados pelo sistema de saúde como meros operadores de prescrições técnicas, normatizações, legislações e atividades de controle e erradicação de doenças”, observa a diretora da escola, Janaína Andrade Duarte. Segundo ela, a Etsal tem um papel importante na capacitação da força de trabalho do estado.

Pós-técnico

Levantamentos são sempre bem-vindos quando se trata de planejamento em saúde. Um deles, realizado pelo Departamento Nacional de Auditoria do SUS (Denasus), motivou a criação do curso de Atualização em Mamografia para Técnicos e Tecnólogos em Radiologia, conduzido pela Sgtes/MS, por meio da Coordenação-Geral de Ações Técnicas em Educação na Saúde do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (Deges), no âmbito do Profaps. Segundo o Denasus, no Relatório de Avaliação do Funcionamento dos Mamógrafos do SUS, um dos problemas mais evidentes diz respeito à qualificação da força de trabalho empregada nesses serviços. Sabe-se, porém, que a mamografia é um dos métodos preconizados pelo Ministério da Saúde para o rastreamento do câncer de mama na rotina da atenção integral à saúde da mulher e que a qualidade do exame mamográfico requer, entre outros elementos, equipamento apropriado e profissionais técnicos qualificados, para que se possa assegurar o diagnóstico precoce do câncer de mama e garantir ações de saúde efetivas e eficientes.

A formação surge, portanto, como ação estratégica voltada à qualificação de técnicos e tecnólogos em radiologia, considerando a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama. O curso foi inaugurado em dezembro de 2012, com 31 trabalhadores que operavam mamógrafos em suas respectivas regiões (Maranhão, Pernambuco, Piauí, Sergipe e Ceará).

A exemplo das formações técnicas praticadas pelas escolas da Rede, a atualização adotou um referencial pedagógico crítico-reflexivo. As atividades contam com aulas dialogadas, discussão em pequenos grupos, plenárias e demonstrações e observações do processo de trabalho em uma unidade de Radiologia. Em apoio à formação — cuja carga horária é de 40 horas —, o Ministério da Saúde lançou, em 2014, uma publicação que leva o mesmo nome do curso. O livro trata do contexto histórico do câncer de mama, da situação epidemiológica da doença, das políticas públicas direcionadas ao controle do câncer de mama, das questões referentes à abordagem morfofuncional da mama, do câncer de mama e das propriedades físicas dos tecidos da mama. A publicação apresenta, ainda, capítulos mais específicos sobre aspectos relacionados ao equipamento mamográfico, exame de mamografia (abordagem da usuária, posicionamentos e incidências), achados de imagem no exame de mamografia, programas de garantia de qualidade em mamografia e, por fim, sobre a proteção radiológica em serviços de mamografia.

Motivada por esta necessidade de atualizar os técnicos dos serviços de saúde, a Escola de Formação Técnica em Saúde Prof. Jorge Novis (EFTS), na Bahia, substituiu o curso de habilitação técnica para os trabalhadores da rede própria hospitalar da Secretaria Estadual de Saúde pela formação pós-técnica. A proposta foi fruto de debate que culminou na resolução nº 559 da Cominação Intergestores Bipartite do estado, de dezembro de 2013, evidenciando a importância de construção de novas competências e habilidades e, também, de práticas de segurança do trabalhador com vistas a melhorias no processo de trabalho e atenção ao usuário.  Assim foi elaborada a proposta do Aperfeiçoamento para o Técnico em Radiologia, em cooperação técnica com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (Ifba), por ter o notório saber dos docentes na área e o parque tecnológico para a realização das práticas, imprescindíveis a formação.

Ingressaram no curso 74 trabalhadores das unidades hospitalares da rede estadual, com perspectiva de mais duas turmas de 25 alunos para esse ano. Até agora foram formados 57 profissionais. A organização curricular é dividida em quatro módulos de 60 horas, totalizando uma carga horária de 240 horas. O módulo um compreende o movimento da Reforma Sanitária brasileira e o SUS, a legislação, as técnicas radiográficas e as medidas de proteção.  O segundo módulo traz os conhecimentos relacionados aos princípios da tomografia computadorizada, ao processo de produção e à manipulação das imagens e dos softwares utilizados nos serviços de radiodiagnóstico. O módulo três aborda os conhecimentos relacionados aos princípios da mamografia, bem como o processo de produção e manipulação das imagens e dos softwares utilizados nos serviços de radiodiagnóstico. O último módulo trata dos saberes relacionados aos princípios de radioproteção e controle de qualidade utilizados nos serviços.

A metodologia pedagógica adotada foi a histórico-crítica, com destaque para a metodologia da problematização, cujo fundamento é de que a aprendizagem não é alcançada de forma instantânea, nem pelo domínio de informações técnicas. Com base em Juan Bordenave (1994), a proposta requer um processo de sucessivas aproximações cada vez mais amplas ao conhecimento, de modo que o aluno, a partir da percepção e reflexão iniciais, observa, reelabora e sistematiza seu conhecimento sobre o objeto em estudo.

Mais qualidade

A presidente do Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia (Conter), Valdelice Teodoro, ressalta a importância que o Profaps tem para a formação de técnicos na área. “As escolas técnicas do SUS são um oásis no meio do deserto, deveriam servir como referência”, avalia. Segundo ela, os melhores profissionais saem das escolas da RET-SUS, cujo foco é a formação para o SUS. “Sabemos que há também instituições particulares sérias, que formam bons alunos. Entretanto, não precisamos de um dado estatístico oficial para assegurar que a maioria delas se baseia em um modelo de negócio concentrado no lucro”, compara.

Com mais de 100 mil profissionais formados e legalmente habilitados, no entanto há carência de especialistas em Radioterapia, Tomografia Computadoriza, Medicina Nuclear, Ressonância Magnética e Mamografia, afirma o Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia (Conter). “Não existe equipe multiprofissional de saúde sem os profissionais das técnicas radiológicas. Nós somos os olhos da medicina. Sem o trabalho do nosso profissional, não tem diagnóstico por imagem. Na medida em que a tecnologia evolui, nosso papel se torna mais evidente. Da operação à supervisão radiológica, não há um só procedimento além da nossa competência”, ressalta Valdelice. Segundo a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), do Ministério do Trabalho e Emprego, a ocupação se enquadra na família de Tecnólogos e técnicos em métodos de diagnósticos e terapêutica. O técnico em radiologia está identificado no subgrupo denominado Técnico em Radiologia e Imagenologia, no qual estão as especialidades desse profissional — ou seja, os exames que ele está habilitado a realizar.

Os técnicos em radiologia são profissionais de saúde que efetuam exames na área da Radiologia. “Ou seja, eles atuam na produção de imagens do interior do corpo que permitem diagnosticar situações patológicas como pneumonias, tumores ou fraturas ósseas, entre outras”, explica. De acordo com Valdelice, o processo de trabalho do técnico envolve tanto o manejo de equipamentos quanto o cuidado com o usuário. “Esse trabalho implica também a relação com outros profissionais, dentre eles o médico radiologista e os profissionais da enfermagem”, ensina.

“O Brasil é um país diverso, qualquer generalização não me parece razoável. Temos hospitais, clínicas e governos que respeitam as leis, cumprem as normas e os serviços radiológicos funcionam bem. Mas, por outro lado, existem regiões pobres e sem qualquer infraestrutura, onde impera a desinformação”, observa a presidente, acrescentando que, em 2011, o órgão produziu documentário que evidenciou a complexidade da situação, mostrando a realidade do profissional das técnicas radiológicas e os riscos envolvidos na operação. “Considero preocupante a má qualidade da educação na área das técnicas radiológicas observada em muitos lugares, especialmente no setor privado. Boa parte aprende mesmo é na prática”, avalia.

Criado em 4 de junho de 1987, o Conter tem a função de manter a inscrição das pessoas legalmente habilitadas, normatizar e fiscalizar o exercício das técnicas radiológicas no Brasil, por meio dos 19 conselhos regionais de técnicos em radiologia espalhados pelo país. “O cenário atual é preocupante”, afirma. Segundo ela, a carência é fruto da falta de oferta de cursos de especialização e da dificuldade de acesso. Ela revela que a Conter tem motivado a classe a driblar as dificuldades e a buscar saídas para melhorar a formação, a fim de oferecer material humano qualificado para atender as necessidades do mercado e das pessoas.

Para ela, o principal desafio da categoria é evoluir tanto no plano educativo quanto legislativo. “A Lei n.º 7.394/85, que regula o exercício das técnicas radiológicas no Brasil, tem 30 anos, está defasada, não atende mais as necessidades sociais do país”, avalia. Vadelice defende a criação de um novo marco regulatório para a área, que compreenda as novas tecnologias e delimite claramente os campos de atuação. “Precisamos aprovar o Projeto de Lei n.º 3.661/12, que está em tramitação no Congresso. Com isso, resolvemos essa parte”, recomenda, fazendo alusão ao PL de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS) e que, atualmente, tramita na Câmara dos Deputados, propondo a regulamentação da profissão de técnico e tecnólogo em Radiologia e de bacharel em Ciências Radiológicas.
 

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Viviane,

A RET-SUS é composta por 40 escolas técnicas, centros formadores de recursos humanos do SUS e escolas de Saúde Pública que existem em todos os estados do Brasil. Os cursos são oferecidos por cada uma delas, em suas regiões de abrangência. Sugerimos entrar em contato diretamente com a escola da sua região para que possa saber sobre abertura de turma e outras informações relativas a cursos de seu interesse. No site da Rede (www.retsus.fiocruz.br), clique no item ‘escolas’ do menu principal, localizado à esquerda da página inicial do site, para que possa ter acesso a lista de escolas da Rede e os dados sobre elas.

Atenciosamente,
Secretaria de Comunicação da RET-SUS.

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