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03/06/2015 Versão para impressãoEnviar por email

Consensos e dissensos da Educação Profissional e Tecnológica

'Diversidade, cidadania e inovação' deu título ao 3º Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, reunindo mais de 20 mil estudantes e profissionais da área e se destacando, ainda na abertura, por protestos contra os cortes no orçamento da Educação.

O 3º Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica (FMEPT), realizado de 26 a 29 de maio, em Pernambuco, sob o tema Diversidade, Cidadania e Inovação, se destacou pela sua grandiosidade — cerca de 21.500 participantes, 340 atividades autogestionadas, 2.572 pôsteres e 50 trabalhos de inovação tecnológica, além de oficinas e minicursos, atividades culturais e feiras de gastronomia, de economia solidária e do livro —, e por protestos, na abertura, contra os cortes no orçamento da Educação. "É ou não é piada de salão, tem dinheiro para banqueiro, mas não tem para a educação", gritavam estudantes e professores, de um lado da plateia, levantando, também, faixas com pleitos por melhores salários, plano de cargo e carreira e condições dignas de trabalho. “Ô Dilma, que papelão, cortando verba da educação”, queixavam-se, do outro lado, entidades do movimento estudantil, fazendo alusão à diminuição de mais de R$ 9 bilhões do orçamento da área, anunciada dias antes do evento.

Na abertura do fórum, realizada na noite do dia 27, representantes de instituições de ensino e autoridades de governo saudaram a enorme plateia presente. O ministro da educação, Renato Janine Ribeiro, maior alvo dos protestos, iniciou contando a sua participação no Fórum Mundial da Educação (FME), realizado na Coreia do Sul, dias antes (de 19 a 22 de maio). Em alusão à Declaração de Incheon, documento final do FME que estabelece metas até 2030, o ministro avaliou que o Brasil está muito bem no cenário internacional. "Entre as metas do encontro destaca-se a que recomenda que os países cheguem até 2030 a um percentual de 6% do PIB investidos na Educação. Meta que o Brasil já está perseguindo", afirmou, ressaltando que o país já investe 6,6% e, de acordo com o Plano Nacional de Educação, deve chegar a 7% até 2020.

Lugar de relevo

Ele frisou que a educação profissional tem lugar de relevo no governo federal e segue ao encontro de ações que visam à redução da miséria, como o Bolsa Família e a política de valorização do salário mínimo.  "O Brasil tinha 10% das pessoas abaixo da linha da miséria. Com o programa Bolsa Família, conseguimos reduzir essa população para cerca de 5% a 6%", comemorou, lembrando, ainda, que o grupo de indivíduos entre 0 e 15 anos foram os mais beneficiados com as ações de governo. "Não à toa que, na Coreia do Sul, fomos recebidos com destaque. O país foi apresentado como um modelo de inclusão social", revelou.

Ele destacou, em seguida, a importância de se superar a divisão social que se estabelece entre uma educação voltada para o trabalho e outra direcionada ao lazer, defendendo que a opção entre o caminho do curso superior e a educação profissional, por sua capacidade de incluir milhares de pessoas no mundo do trabalho, deve ser cada vez mais uma questão de vocação. "Que a Educação Profissional e Tecnológica, com apoio de toda a sociedade, consiga realizar suas metas", encerrou.

Além do ministro da educação, compuseram a mesa de abertura, Cláudia Sansil, primeira reitora eleita do Instituto Federal de Educação Profissional e Tecnológica (IFPE) e coordenadora-geral do FMEPT, Eliezer Pacheco, do Conselho Internacional do Fórum Mundial de Educação e secretário de Educação de Canoas (RS), Fred Amâncio, secretário de Educação de Pernambuco, Marcelo Feres, secretário de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação (Setec/MEC), Belchior Rocha, do Conselho de Reitores dos Institutos Federais (Conif), Eduardo Davi Negrín, do Conselho Internacional do Fórum, e Maria José de Sena, reitora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFPE). Referindo-se à importância da inclusão pela educação, Cláudia citou o educador, pedagogista e filósofo brasileiro Paulo Freire (1921-1997) e o geógrafo e ativista pernambucano, que dedicou sua vida ao combate à fome, Josué de Castro (1908-1973).  “Esses dois grandes nomes são exemplos de que é através do empoderamento dos cidadãos, que iremos emancipa-los. É com a expansão da Rede Federal de Ensino que faremos a inclusão", destacou.

 

EPSJV no Fórum

Além de integrar o comitê organizador do 3º Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), integrante da Rede de Escolas Técnicas do SUS (RET-SUS), esteve à frente de três importantes debates, fazendo crítica a um modelo de educação profissional pautado no mercado e no capital e reconhecendo a força da classe trabalhadora por meio da formação. No dia 27, sob o título Estratégias curriculares para a formação integral de trabalhadores técnicos de nível médio, mediado pela vice-diretora de Ensino e Informação, Paulea Zaquini, o debate focalizou o papel da escola frente à coordenação e à implementação de programas de educação básica e profissional e à elaboração de propostas de política, regulamentação, currículos, cursos, metodologias e tecnologias. “A formação dos trabalhadores da saúde precisa ser pensada no contexto complexo e contraditório da economia global e das políticas não liberais, com resultados que afetem a vida cotidiana no trabalho e na qualificação profissional”, ressaltou Paulea.

O debate Educação Profissional: em torno do trabalho como princípio educativo, realizado no dia 28, sob a coordenação do diretor da EPSJV, Paulo Cézar Ribeiro, contou com a participação do professor do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), Dalton Luiz Menezes, integrante do Grupo de Trabalho Capital, Trabalho e Educação da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), e da vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da escola, Marcela Pronko. "A EPSJV sempre tentou trabalhar a educação profissional sob um ponto de vista que contemplasse os interesses da classe trabalhadora para a construção de uma consciência crítica, além de uma formação profissional. Esse é o principal contraponto diante das linhas hegemônicas de formação profissional no Brasil”, frisou Ribeiro.

A formação docente na Educação Profissional em Saúde: desafios e possibilidades, por fim, deu título ao debate promovido no dia 29, sob a coordenação da ex-coordenadora da Cooperação Internacional da EPSJV, Anakeila Stauffer. A mesa destacou três experiências de especialização voltadas para a formação de docentes na educação profissional que envolveram a escola — uma voltada a trabalhadores dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Palop), outra para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e um projeto da EPSJV que foi pensado como alternativa à licenciatura para os professores dos cursos técnicos.

A diretora da Escola Nacional de Saúde de Guiné-Bissau, único instituição do país a formar técnicos em saúde, Maram Mané, falou sobre o curso de Especialização em Educação Profissional em Saúde para professores e dirigentes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, realizado de fevereiro a dezembro de 2011, formando 27 profissionais, por meio da Secretaria Executiva da Rede Internacional de Técnicos em Saúde (RETS), cuja sede é a escola politécnica. Segundo Maram, que foi aluna do curso, o projeto foi construído coletivamente por profissionais da Pós-Graduação e da Cooperação Internacional da EPSJV durante mais de um ano de trabalho. “Foi um curso inovador, que trouxe elementos que permitiram enxergar nossa realidade e argumentarmos criticamente”, elogiou a diretora.

Anakeila falou sobre o curso de Especialização em Trabalho, Educação e Movimentos Sociais, criado a partir de uma demanda do MST. Com 654 horas, a formação foi dividida entre tempo escola e tempo comunidade, uma vez que os alunos são militantes, dirigentes e responsáveis pela educação e formação do Movimento e, ao voltar para seus assentamentos, espalhados no país inteiro, precisavam tocar suas tarefas em paralelo aos estudos.

Coordenador do curso de Especialização em Docência na Educação e Trabalho na Saúde da EPSJV, André Feitosa recuperou o contexto histórico da formação de professores para cursos técnicos. “No Brasil, o que vigora na educação profissional no geral é aquilo que origina a relação mestre/aprendiz, ou seja, o docente domina determinados conhecimentos técnicos, que ‘transmite’ para seu aprendiz”, criticou. Segundo ele, a formação docente é uma questão que deve ser encarada continuamente. “Ainda hoje no Brasil existem poucos cursos de licenciatura na área da saúde”, acrescentou, contado que o curso da EPSJV, com 800 horas, ofereceu sua primeira turma em 2013.

Reportagem completa sobre o 3º FMEPT na Revista da RET-SUS nº 72, de maio e junho de 2015, disponível aqui no site da RET-SUS (veja aqui).

 

Pela equipe de jornalistas da Secretaria de Comunicação da RET-SUS

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