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04/12/2014 Versão para impressãoEnviar por email

Sistema Nacional de Educação em foco na Conae 2014

Defensor dos sistemas nacionais, Dermeval Saviani tratou dos desafios da implantação do Sistema Nacional de Educação no Brasil. O professor alerta para os riscos que envolvem a aprovação do Sistema, que, segundo o PNE, deve ser instituído até 2016.

No terceiro dia da 2ª Conferência Nacional de Educação (Conae), realizada de 19 a 23 de novembro, em Brasília, sob o tema O Plano Nacional de Educação (PNE) na articulação do Sistema Nacional de Educação: participação popular, cooperação federativa e regime de colaboração, Dermeval Saviani, professor emérito da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), falou sobre o papel da União na colaboração federativa para a organização e operação do Sistema Nacional de Educação (SNE). Saviani, que é considerado um dos maiores defensores da implantação do SNE no país, introduziu sua exposição resgatando a importância dos sistemas nacionais para a erradicação do analfabetismo e a superação das desigualdades regionais na qualidade da educação. Segundo ele, a organização desses sistemas ocorreu a partir da segunda metade do século 19 nos países centrais da Europa, como Alemanha, Inglaterra e França e, a partir do século 20, nos vizinhos Argentina, Chile e Uruguai. “Nós fomos adiando e já entramos no século 21 sem resolver esse problema”, disse.

De acordo com Saviani, o sistema nacional pode ser considerado o fiel da balança quando se analisa a disparidade atual entre Brasil e Itália que, no século 19, exibiam indicadores semelhantes. Isso porque o país europeu, que tinha metade de sua população analfabeta, conseguiu universalizar a escola elementar e erradicar o analfabetismo após a criação do sistema, em 1911.

O exemplo italiano serve, ainda, segundo sua avaliação, para rebater os argumentos que se apoiam na preservação das especificidades locais para emperrar a criação do SNE, já que os italianos não deixaram de falar os dialetos, sendo beneficiados pelo aprendizado de uma língua comum. Além disso, o professor acredita que a experiência ilustra a compatibilidade do sistema nacional com o regime federativo, ao contrário do tom do debate no Congresso Nacional, onde, segundo ele, o sistema sempre aparece como imposição do governo federal. “A federação é uma unidade conformada por estados que visam a assegurar interesses comuns. Essa forma de organização postula a articulação nacional que, no campo da educação, representa a união intencional dos vários serviços educacionais que se desenvolvem no âmbito dos diversos entes que compõe o Estado”, explicou.

Para Saviani, a luta deve ser pela construção de um “verdadeiro” SNE. Para isso, a adesão de estados, municípios e Distrito Federal não pode acontecer depois dele instituído, mas no processo de construção do sistema. Outro ponto de partida é o entendimento de que, mesmo tendo atribuições diferentes, todos os entes devem participar da administração do SNE, que precisa, obrigatoriamente, ser público. “As instituições privadas integrarão o sistema como particulares e, nesta condição, darão sua contribuição específica. Não cabe travesti-las de públicas, seja pela transferência de recursos, na forma de subsídios e isenções, seja pela transferência de poder, admitindo-as na gestão e operação”, orientou.

Críticas à abordagem

Saviani fez algumas críticas ao modo como o SNE foi abordado na 2a Conae, pois os sete eixos norteadores da conferência não teriam contribuído para o aprofundamento do assunto. “Sobre o SNE paira um desconhecimento mais ou menos generalizado. O que deveria nortear o debate da Conae é a busca de maior clareza sobre o significado daquilo que queremos, buscando avançar na compreensão da base de sua sustentação, organização e conteúdo”, destacou. A confusão, segundo o professor, começa no tema da conferência, que dá a entender que é o plano que sustenta o sistema, e não o contrário.

O pesquisador alertou para os riscos que envolvem a aprovação do SNE, que, segundo o PNE, deve ser instituído até 2016. Se, por um lado, o prazo pode ser ultrapassado, a exemplo do que aconteceu com o Plano Nacional, aprovado com dois anos de atraso, por outro, uma aprovação rápida, sem a devida discussão, mudaria pouco o quadro brasileiro. “Não cabe compreender o SNE como um guarda-chuva com a mera função de abrigar o sistema federal, os 26 sistemas estaduais, o Distrito Federal e, no limite, os 5,7 mil sistemas municipais de ensino. Se for aprovada uma proposta nesses termos, o SNE se reduzirá a uma mera formalidade”, frisou.

Nesse sentido, Saviani declarou que esperava da plenária da 2ª Conae um posicionamento contundente contra o sistema guarda-chuva: “Esperamos que a plenária aprove de forma insofismável a implantação de um verdadeiro Sistema Nacional de Educação. Isto é, um sistema unificado, organizado e gerido em colaboração pelos entes federativos, convertendo os atuais sistemas municipais e estaduais em redes públicas integrantes. Verdadeiramente público, livre das pressões de mercado e da promiscuidade com as organizações privadas no qual a rede particular seja integrada pela sua adequação às normas estabelecidas no interesse maior da educação de toda a população brasileira”.

 

Saiba mais sobre a Conae 2014, aqui, no site da RET-SUS, em notícias:

Os rumos da educação à luz da mobilização social

A prioridade é regulamentar o sistema em regime de colaboração

A educação é ponto focal do governo, diz presidenta

 

Por Maíra Mathias, repórter da Secretaria de Comunicação da RET-SUS

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